Artigo publicado na versão impressa da edição de 17 de dezembro de 2012:
Durante o anúncio dos primeiros nomes do secretariado do governo Paulo Hadich na última semana, chamou-me a atenção, no discurso do prefeito eleito, o destaque dado à expressão "qualidade de vida".
O tema foi replicado por vários secretários posteriormente, em especial o que comandará a pasta da Secretaria de Segurança Pública, Maurício Miranda de Queiroz, algo curioso, uma vez que, quando pensamos nesta área, poucas vezes a associamos com o termo.
Hadich lembrou que o desafio da qualidade de vida não é apenas local, mas global, e se consolida como permanente nos próximos anos nas grandes cidades. Ainda na semana passada, oportunos estudos divulgados pela Folha de São Paulo mostram um panorama que dá diretrizes aos gestores em todo o mundo.
Segundo os estudos, há um descompasso entre a vida longa e a vida saudável. Numa comparação das condições de saúde em 187 países entre 1990 e 2010, chegou-se a conclusão que um ano a mais de vida significa 0,8 ano vivido com saúde. Em resumo, todos vivem mais, porém com menos qualidade.
O diagnóstico aponta ainda que os ganhos na saúde vieram sem redução significativa no combate a doenças crônicas. Os dez maiores fatores de risco a doenças são: pressão alta, cigarro, álcool, poluição dentro de casa, consumo baixo de frutas, obesidade, taxa alta de açúcar no sangue, baixo peso infantil, poluição ambiental e sedentarismo.
Tomando como base esta última listagem, vemos como os fatores que reduzem a qualidade de vida estão mais ligados a hábitos individuais, área na qual a ação do poder público é mais difícil e demorada de chegar.
Assim, por mais que uma prefeitura construa áreas verdes, quadras esportivas e espaços para atividades físicas, a qualidade de vida ainda dependerá do gesto espontâneo e da vontade do indivíduo.
Isso não é desculpa para que o tema não seja prioridade na administração pública, e Hadich, assim como qualquer outro mandatário, acertará se colocar a qualidade de vida como uma diretriz.
Mas, para reduzir essa distância entre as políticas públicas e as mudanças de comportamento individual, há necessidade de algo mais além de campanhas informativas que distribuam panfletos nas esquinas das praças centrais, geralmente fadados à lixeira ou à sarjeta mais próxima.
Uma política pública que envolva múltiplas secretarias deve, além de ser a longo prazo, abranger também um esforço conjunto da iniciativa privada e da sociedade civil como um todo.
Pois se o desafio da qualidade de vida é global, é hora de pararmos apenas de cobrar ações do poder público e ajudá-lo a construir saídas para uma cidade mais saudável.
A começar por nós mesmos.
quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
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