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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Fora da ordem

Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 25 de janeiro de 2010:

O episódio do servente detido na última semana na Câmara Municipal por desacato após exaltar-se em não ver sua reivindicação (construção de campinho de futebol no bairro) ter sucesso ajuda a explicar o desarranjo institucional que vigora em Limeira e porque o Ministério Público, forçado a intervir, gera discussões polêmicas sempre quando age.

Em 2007, estudo do Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam) mostrou que a receita por habitante de Limeira (R$ 1.103) era insuficiente para oferecer serviços públicos de qualidade, que exigiam, no mínimo, R$ 1,5 mil anuais por pessoa.

Em outras palavras, é impossível atender as necessidades de todo mundo ao mesmo tempo, e isso não é exclusividade de Limeira – somente 20% dos municípios atingiam o índice esperado.

Cansados de não serem atendidos pela Prefeitura, os cidadãos recorrem ao Legislativo, como fez o servente.

A Câmara torna-se balcão de reivindicações, espécie de “subprefeitura”, conforme revelado pela Gazeta.

Mas vereadores nada podem fazer de obras ou serviços, que são atribuições do Executivo.

Cria-se o impasse: o Executivo não faz; o Legislativo só pode pedir, e o cidadão não obtém o que acredita ser direito seu como contribuinte: melhorias no bairro onde vive – daí, para a exaltação, como ocorreu no caso do servente, é um passo.

Por mais que os vereadores digam que é preciso conscientizar o cidadão, não lhes interessa mudar o panorama.

Todos, sem exceção, têm aspirações políticas, e recusar atender a população significa perder votos.

Transponho, agora, essa realidade à questão das constantes intervenções do MP para resolver impasses de perturbações públicas.

Ao longo das últimas décadas, o município cresceu de maneira desordenada, sem Executivo ou Legislativo que atentassem para leis que promovessem distribuição “saudável” de estabelecimentos de shows, indústrias e residências.

Hoje, temos, só como exemplo, uma Avenida Rio Claro, com locais de aglomeração de jovens (e barulho), e cercada de residências.

Criou-se um Plano Diretor, mas continuamos sem vislumbrar solução em curto prazo para pôr em harmonia população e promotores de show.

Na realidade em que Executivo e Legislativo ficam na inércia, cresce a figura do Poder Judiciário e do Ministério Público. Cada vez mais vemos pessoas recorrendo às ações judiciais para obterem remédio ou vaga em creches.

Daqui a pouco, até reivindicações de lazer, como foi o pedido do servente detido, acabarão na Justiça.

Ou Prefeitura e vereadores se concentram em políticas públicas de acordo com a lei e em mecanismos para atender as necessidades básicas da população, ou Limeira terá de se acostumar com o MP e o Judiciário pondo ordem aos desarranjos.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O Haiti de cada um

Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 18 de janeiro de 2010:

Para tragédias como a que se abateu sobre o Haiti, não há muitas explicações.

É difícil tentar compreender por que tinha de acontecer no país mais pobre da América, onde 47% da população é composta por analfabetos, 80% estão na linha da pobreza e mais de 70% vivem com menos de US$ 2 por dia.

É fácil, porém, entender por que o mundo e o Brasil hoje se voltam ao Haiti. Os laços são maiores até do que imaginávamos – conforme a Gazeta mostrou, há dois limeirenses que escaparam da morte em Porto Príncipe, capital devastada pelo terremoto. Não apenas pelos mais de mil militares compatriotas que há quase seis anos tentam estabilizar o país.

Nas tragédias, o sentimento de dor e de impotência é o mesmo, seja no Japão, país acostumado aos tremores de terra, seja nos países asiáticos devastados pelo tsunami, ou em nações com recursos para se recuperarem, como os Estados Unidos, abalados pela passagem do furacão Katrina, que devastou Nova Orleans em 2005.

Nem o Brasil, país teoricamente mais a salvo de terremotos, está imune às feridas provocadas pela ação da natureza. Curioso ver como a tragédia provocada pelas chuvas em Angra dos Reis já está escassa no noticiário brasileiro.

A destruição, por razões óbvias, é incomparavelmente menor, mas apenas em seu tamanho. A dor das famílias, os olhares assustados diante dos escombros, a incredulidade ante as consequências do imprevisto e a incerteza quanto ao futuro são iguais.

A tragédia haitiana mostra mais uma vez a fragilidade do homem ante a natureza, justamente um mês após as principais autoridades mundiais não se entenderem em como reduzir o impacto que provocamos nela.

E, nessa área, não há senão um cenário pessimista adiante. Quanto mais hesitarmos nas ações, piores os efeitos e 2010 está aí para nos lembrar disso.

Reconstruir a capital do Haiti será uma missão difícil, mas pode estabelecer uma nova postura das autoridades mundiais.

Achar culpados pela desgraça econômica e instabilidade política do país não vai resolver.

Quando a atitude humanitária for priorizada, como agora, em detrimento aos interesses econômicos, os países poderão manter esperanças de reduzir os “haitis” existentes em cada um. E eles são muitos.

Ao ver as imagens da última semana, lembrei-me, ainda, do verso de uma antiga canção: “Podia ser meu pai, podia ser meu irmão”. Dor é uma sensação humana, não haitiana.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O risco do diálogo

Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 11 de janeiro de 2010:

Frequentemente em nossa trajetória profissional ou pessoal, é comum depararmos com situações em que, para obtermos uma determinada meta, precisamos deixar de lado impressões negativas que formamos a respeito das pessoas para estabelecer um convívio saudável que permita-nos atingir o que queremos. O diálogo é o caminho mais tradicional para tanto, mas, ainda assim, há um risco a ser encarado.

Desde o início de sua gestão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva jamais escondeu a vontade de levar o País a uma vaga fixa no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), órgão que zela pela segurança mundial.

Nesse contexto, intensificou viagens a países que sempre passaram ao largo da diplomacia nacional, como o Gabão, na África, em 2004, onde soltou aquela “pérola” de aprender com o ditador local como ficar 37 anos no poder e ainda se candidatar.

Em novembro, debaixo do nariz torcido de muitas potências ocidentais, Lula recebeu em Brasília o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, para quem o Holocausto, onde milhões de judeus foram mortos pelo regime nazista, nunca existiu. O iraniano é criticado também por suas reiteradas ameaças a Israel e pela repressão a liberdades civis, ocorrida em seu País, no pleito que o reelegeu, em junho passado.

Agora, na semana que passou, nosso chanceler, Celso Amorim, admitiu a possibilidade de o Brasil manter diálogo com o Hamas, grupo radical palestino enquadrado como terrorista por importantes países da comunidade internacional.

Em março, Lula tem viagens programadas para Israel, Jordânia e áreas palestinas, na tentativa de colocar o País numa posição de importância nos esforços para um acordo no Oriente Médio, assunto que já mereceu atenção de lideranças mundiais nas últimas décadas, com repetidos insucessos.

Qual é a vantagem de dialogar com um regime acusado de manter um programa nuclear clandestino cujo objetivo seria obter a bomba atômica? Qual o benefício para o País se intrometer numa questão secular não-resolvida através do diálogo com um grupo acusado de cometer crimes de guerra e atentados que mataram milhares de pessoas?

Ser ouvido e reconhecido na comunidade internacional é insuficiente para Lula, que parece querer conquistar a vaga no Conselho de Segurança da ONU projetando-se à frente com diálogos contestados pelas principais democracias da comunidade internacional.

Nos dois casos citados, o risco talvez seja alto demais. Será que compensa?

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Emprego é o desafio

Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 4 de janeiro de 2010:

O primeiro dia-útil do ano nasce, para muitos, com uma renovada expectativa em relação ao futuro profissional. Como todos os anos, os Postos de Atendimento ao Trabalhador (PATs) de todo o País deverão ganhar filas de trabalhadores esperançosos em começar 2010 com trabalho novo.

No ano pós-crise, o emprego será o principal desafio de nossa economia. Por mais que os sinais de recuperação tenham sido dados nos últimos meses de 2009, há muito chão para ser percorrido para que o País retome os níveis anteriores. Milhões de trabalhadores que perderam o emprego durante a fase crítica da crise ainda lutam para recuperar o espaço.

Em Limeira, não será diferente.

Em 2008, o município sentiu no segundo semestre os efeitos da crise, que foram suficientes para derrubar a geração de empregos em 41% na comparação com o ano anterior. Ainda assim, foram criados 2011 empregos.

Em 2009, até novembro, o Ministério do Trabalho apontou saldo de 1.762 novas vagas em Limeira. Como dezembro é, tradicionalmente, um mês de desaceleração, são grandes as chances de o emprego ter novamente queda no município.

Quando analisamos o desempenho dos últimos 12 meses, entre novembro de 2009 e o mesmo período de 2008, foram criadas apenas 435 vagas, o que dá uma real dimensão de quanto as empresas sentiram os efeitos da retração global.

Como percebemos pelas estatísticas, há uma ampla gama de trabalhadores esperançosos em novas oportunidades neste ano.

A última enquete de 2008 feita pela Gazeta de Limeira em seu site reforça esta sensação. Entre cinco sugestões, a maioria dos internautas apontou o emprego como a área na qual Limeira precisa melhorar em 2010.

Aliada aos que tentam recuperar espaço, está uma elevada quantidade de jovens formados nas instituições técnicas e de ensino superior, que aumentam a massa de mão de obra disponível no mercado e a competição pelas vagas que surgem. Só em 2008, foram 1.541 formados nas faculdades particulares do município, aumento de 8,45% em relação a 2007.

Para atender toda esta demanda, o desafio de Limeira no último ano da década, assim como de muitos municípios, continua sendo intensificar a atração de empresas e, principalmente, estimular o empreendedorismo local.

Se o município quiser uma década diferente desta que acabará, precisa aumentar a capacidade de geração própria de negócios.

Em 2010, inovação deve ser palavra de ordem para antigos e novos empregadores. Persistência e esforço devem ser metas de quem procura os espaços no mercado.

A junção destas características pode representar, de fato, um novo ano.