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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A vista do ponto

Artigo publicado na versão impressa da edição de 10 de dezembro de 2012:

Para quem acompanha o mundo político, o que se viu na sessão da Câmara na semana passada, quando vereadores da futura base governista retiraram suas emendas para amarrar menos o prefeito eleito Paulo Hadich, foi absolutamento natural (do ponto de vista da situação), embora para alguns (oposição) possa ter sido incoerente.

A verdade é que, na política, os conceitos de natural e coerência dependem, além do ponto de vista, da vista do ponto em que se está.

Ronei Martins, o primeiro a retirar as emendas, foi coerente ao dizer que seria incoerência se não fosse à tribuna defender o apoio incondicional à Hadich.

Ele tinha razão também ao afirmar que o vereador tem outras ferramentas para questionar e monitorar o Executivo, como os requerimentos (no que ele faz bem como poucos - de janeiro até sexta-feira, Ronei apresentou 96 e Eliseu, com quem discutiu na semana passada, 39), e que as emendas raras vezes têm efeito prático (cabe ao prefeito decidir se atende ou não).

Mas deixar de sugerir uma destinação de verba por acreditar no projeto político do Executivo é o mesmo que não usar a ferramenta do requerimento por também ter a mesma crença.

Os vereadores têm a liberdade de optar, mas se abdicarem dos instrumentos que têm para acompanhar e fazer sugestões ao Executivo (tanto nas emendas quanto nos requerimentos), a própria função legislativa fica em xeque.

Detentor de 12 mil votos e com uma natural liderança popular fruto de seu exercício parlamentar que o habilita a projetos maiores - inclusive disputar o Edifício Prada futuramente -, Ronei terá, evidentemente, um desafio maior a partir de 2013.

O fato de agora ser situação muda, naturalmente, sua forma de atuar. Mas o que é natural no mundo político não necessariamente se firma fácil no imaginário popular.

O que se estranhou - e haverá os adversários políticos para lembrar, assim como muitos o viam nos últimos anos - é que o vereador que conquistou popularidade defendendo, como raros, a independência do legislador em relação ao Executivo, abdicou por um momento, assim como outros colegas, antes mesmo do governo eleito assumir, de um instrumento legislativo.

Assim como o governo Lula em 2003, a chegada de um novo grupo ao governo trará consequências naturais da inversão dos papéis políticos.

A alfinetada dada por Iraciara Bassetto (5 requerimentos registrados no sistema da Câmara neste ano), no sentido de que agora quer ver o ISS em 2% implementado (ideia do vereador Hadich que o governo ao qual ela defendeu desprezou), dá o tom da mudança e do que o novo grupo será cobrado pela futura oposição. E como será a reação, evidentemente, só saberemos ao longo do tempo.

Política é isso, concordemos ou não.

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