Pages

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Quando a vitória é de todos

Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 25 de outubro de 2010:

Numa conversa na semana passada com um experiente funcionário público que trabalha há décadas na Prefeitura de Limeira, ouvi uma rápida manifestação, feita até em tom de desabafo, a respeito das relações de jornalistas, poder público e sociedade. “Atualmente, não há como fazer uma política pública com sucesso se não houver participação de toda a sociedade e seus segmentos, incluindo a imprensa”, disse-me.

Concordei com a ideia e, coincidentemente, adiantei a ele um exemplo que tínhamos levantado na semana passada.

O governo federal e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil mencionaram, em importante publicação, o trabalho feito em Limeira para combater o trabalho infantil, especialmente no setor de joias, como uma referência de boa prática na área de saúde.

Para quem não se lembra, o drama das crianças limeirenses começou a ter repercussão nacional após o jornal O Estado de São Paulo publicar uma reportagem sobre o assunto.

A partir disso, o Ministério Público do Trabalho iniciou um trabalho no município e suas ações foram amplamente divulgadas pela imprensa local.

O plano culminou na criação de uma rede municipal que capacitou as pessoas para identificar e combater rapidamente a exploração infantil tão logo identificada.

Há muito ainda o que fazer, mas a citação como exemplo feita pelo governo e a OIT deve ser bastante comemorada por todos os que integram essa rede municipal.

Não é uma vitória da Procuradoria, da Prefeitura ou da imprensa que revelou a situação, acompanhou e divulgou as ações, mas sim do Município de Limeira.

O exemplo da ação contra o trabalho infantil deve ser refletida pelos limeirenses, e as chances de um panorama alarmante ser mudado são grandes.

Exemplo disso é o drama, revelado pela Gazeta na sexta-feira, de uma escola estadual cuja direção pediu intervenção da Justiça para conter a rebeldia dos alunos.

A atuação dos agentes da Vara da Infância e Juventude já começou, mas vai incluir pais, professores, Guarda Municipal e Conselho Tutelar para uma resolução conjunta.

Ao tornar público o caso, a imprensa não tem o objetivo de estigmatizar a escola, mas apontar o problema e cobrar soluções. E, tão logo os resultados começarem a surgir, será uma satisfação voltar ao local e divulgar o que foi feito e, tomara, solucionado o drama.

Limeira é uma cidade dotada de órgãos capazes para atuar, de forma conjunta, com o objetivo de diminuir os dramas sociais.

Falta, apenas, reforçar a identificação dessas vulnerabilidades e alguém tomar a iniciativa de propor as redes.

Isso é papel, principalmente, do Poder Público municipal, mas pode ser de qualquer segmento da sociedade.

A vitória, no final, não é de um governante ou de uma instituição, mas de todos, como bem mostra o excelente projeto contra o trabalho infantil.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Os efeitos do estrelismo

Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 18 de outubro de 2010:

Cinco anos de mandato, incluindo 118 mil votos capitalizados quando se reelegeu em 2008, com votação histórica, não foram suficientes para o prefeito Sílvio Félix controlar uma de suas características como administrador público: excessiva centralização de ações.

Dois anos restando para encerrar sua passagem pelo Edifício Prada, ele começa a sentir os efeitos políticos de seu estrelismo.

Para exemplificar quão centralizador Félix é: para fazer a tradicional edição especial de aniversário do município em setembro, além da costumeira entrevista com o prefeito em exercício, a Gazeta planejou ouvir secretários de diversas áreas para traçar uma expectativa de panorama para os próximos 10 anos.

Na área de transportes, o secretário Rodrigo Oliveira não falou; Félix deu entrevista.

Quando procurada pela reportagem, a secretária de Planejamento, Ana Cristina Machado, temeu a entrevista, e a Prefeitura informou que Félix queria falar por ela.

Tive que, gentilmente, recusar o pedido, dizendo à assessoria de Félix que o aniversário era de Limeira, e não do prefeito.

O rompimento político com Félix anunciado pelo presidente da Câmara, Eliseu Daniel dos Santos, passa pelo projeto pessoal do segundo, tendo em vista as eleições de 2012 e sua vontade, antiga, de ser prefeito, mas traz embutido o comportamento centralizador do primeiro.

Félix, de fato, tinha, e buscou por todos os meios, só um único objetivo nas urnas neste ano: eleger a esposa, Constância.

Para isso, ignorou Eliseu na reta final e deu demonstrações de apoio a uma candidata de fora, Aline Correa.

Foi o fator determinante para Eliseu “abandonar o barco” de Félix.

Nos últimos dois anos, a atuação do deputado estadual Otoniel Lima foi ofuscada o quanto possível por Félix - inicialmente, ele concorreria com Constância a uma vaga na Assembleia.

Quando a região da Ponte Preta sofreu rachaduras e foi interditada às pressas em 2009, Otoniel buscou ajuda e trouxe a Defesa Civil do Estado para avaliar e auxiliar financeiramente na recuperação imediata.

Félix não deu bola para a ajuda de Otoniel e da Defesa Civil, e o caso se arrastou por meses.

Otoniel se elegeu deputado federal, e não houve uma única manifestação pública de Félix de parabenização por isso, nem mesmo um simples telefonema diplomático.

Como também não houve demonstração pública de apoio a César Cortez, que foi seu aliado em muitas ocasiões, e até agora o único a sofrer desgaste político visível com o caso da merenda, ao ser denunciado à Justiça por corrupção.

Vereadores que sempre foram aliados do prefeito começam a ensaiar mudança de comportamento.

Raul Nilsen, por exemplo, tinha vontade de integrar a CPI da Merenda, mas foi atropelado pela tropa de choque convocada por Félix para assumir o comando das investigações.

Piuí pode voltar à bancada oposicionista.

Assim, Félix começa a pagar o preço político por querer ser o centro das atenções em tudo: a perda de aliados.

E como seria a administração pública de Limeira nos próximos 2 anos com um prefeito desgastado politicamente?

Só torço para que isso não “engesse” a administração pública mais que o perfil centralizador de Félix.

domingo, 17 de outubro de 2010

Debate vazio

Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 11 de outubro de 2010:

A votação surpreendente de Marina Silva, suficiente para levar o pleito presidenciável ao segundo turno, é o exemplo mais bem acabado de uma disputa que cansou os eleitores pela ausência de propostas.

Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) chegam à segunda fase sem brilho.

A primeira, porque seu partido “colocou a carroça na frente dos bois”, esperava demais comemorar a vitória no primeiro turno – a frustração é admitida pelos dirigentes petistas.

O segundo, porque não avançou ao segundo turno por conta própria – deve agradecer os eleitores de Marina eternamente.

O crescimento da “onda verde” nos últimos dias, fenômeno que não foi captado pelas pesquisas de intenção de voto, já teve diversas explicações de especialistas, mas parcela expressiva de contribuição, acredito, teve o último debate, na TV Globo, no qual Dilma e Serra se mostraram apáticos para se confrontarem.

Propostas bem trabalhadas, então, nem pensar! Irritado com os dois, o eleitor indeciso, ou que ainda não tinha o voto consolidado, optou por uma terceira via, no caso, Marina.

A ausência de um debate sério, agora, exige um preço alto para os dois. Não obstante, um assunto que requer discussão legítima e sensata, como o caso do aborto, delicado para se discutir num país de características conservadoras, está sendo jogado em meio à campanha eleitoral de forma equivocada.

Tucanos entendem que uma suposta indecisão por parte do programa do partido de Dilma a respeito da descriminação do aborto é motivo para tachar a petista de ser favorável ao ato.

Militantes se incumbem de espalhar, via internet, uma parafernália de mensagens tendenciosas.

Aí, num exemplo anticidadania, bispos católicos usam sua influência para pregar o voto contra Dilma, como se a única exigência para ser presidente é ser contra o aborto (e ela diz que é), ignorando o debate sobre educação, desenvolvimento, meio ambiente e todas as demais áreas.

Do outro lado, Dilma e o PT vão ressuscitar um tema já batido, as privatizações, utilizado por Lula para atropelar Alckmin em 2006.

Se a ida para o segundo turno, motivada por Marina, foi um pedido do brasileiro para um debate melhor, os candidatos e seus respectivos partidos que ainda estão na disputa pelo comando do País, com auxílio de diversos setores da sociedade, estão pertos de convencer o brasileiro a “emendar” o feriadão de Finados.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A fazer, sem desculpas

Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 4 de outubro de 2010:

De uma coisa o prefeito Sílvio Félix não terá do que reclamar em 2011. Limeira terá um “senhor” orçamento no próximo ano, conforme protocolado na última semana na Câmara Municipal.

A peça orçamentária é de R$ 599,5 bilhões, superando todas as expectativas de arrecadação esperadas depois da retomada da economia após os efeitos da crise econômica que, ironicamente, chegou a obrigar Félix a reduzir expediente para conter gastos.

Para o leitor ter uma ideia: em 2008, o orçamento limeirense era de R$ 374,6 milhões. Em três anos, o aumento de recursos disponíveis é de 60%, crescimento significativo considerando que, no período, houve uma crise de efeitos mundiais comparada à Grande Depressão.

Outro fator que devemos levar em conta: com 95% da contagem já feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população recenseada de Limeira, até o último sábado, era de 266.790, o que dá um banho de água fria para quem supunha que o município havia superado a marca de 300 mil habitantes - a última estimativa do IBGE, referência oficial que a Prefeitura adota, era de 281 mil moradores em 2009.

Ou seja, a continuar neste ritmo, a administração pública municipal terá muito mais dinheiro em caixa para gastar em 2011 em benefício de menos pessoas do que se esperava.

Diante desta nova realidade, a desculpas eterna de falta de recursos não vai colar mais. Fica sem sentido, por exemplo, não haver guardas municipais suficientes para manter a base de vigilância na Rodoviária, onde passam 48 mil pessoas por mês e hoje sofre com onda de vandalismo, como a Gazeta mostrou sábado.

Na área de segurança, aliás, está um dos pontos falhos do orçamento de Félix. Os guardas municipais hoje trabalham, muitas vezes, com recursos precários, materiais do dia a dia, como uniformes e viaturas, além do salário, descontentamento que até gerou greve e mal-estar na corporação. Inexplicavelmente, o orçamento na área foi o único que caiu, e significativamente (16%).

Outro ponto que precisa ser reforçado é o setor de fiscalização da Prefeitura. As leis aprovadas pela Câmara Municipal são, em sua esmagadora maioria, inócuas porque faltam pessoas e recursos no monitoramento.

A área de esportes terá R$ 7,6 milhões disponíveis, 13% a mais que neste ano. Dinheiro suficiente para investir muito mais em construção de praças esportivas do que se faz hoje, além do apoio a quem já se empenha na área.

Quando uma prefeitura coloca a pasta de Negócios Jurídicos com orçamento superior à da Agricultura, Meio Ambiente, Planejamento e Esportes, é sinal de que recursos não estão em falta. Então, Félix tem que começar a fazer, sem desculpas. Os cuidados mais simples de que Limeira precisa demandam pouco perto do que a Prefeitura tem para gastar.