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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Incipientes no esporte

Artigo publicado na versão impressa da edição de 13 de agosto de 2012:

O período da Olimpíada é uma oportunidade rara em que os brasileiros se dão conta de muitas coisas que acontecem por estas bandas na área esportiva.

Arthur Zanetti, campeão olímpico nas argolas, não era o principal nome na delegação brasileira da ginástica, nem figurava como favorito para ganhar a medalha mais almejada. Já tinha um nome entre os que acompanham a modalidade, mas, para passar a "existir" para os brasileiros, foi preciso conquistar a medalha de ouro.

Sarah Menezes é um outro exemplo. A primeira medalha dourada que ela conquistou para o judô feminino, além da própria magnitude em si, expôs também uma fórmula na qual o Brasil ainda caminha.

Ela recebeu incentivos do Bolsa Atleta, um programa governamental que ajudou-lhe na projeção e, consequentemente, na obtenção de patrocínios privados. É o exemplo mais bem acabado daquilo que sempre cobramos: apoio do Poder Público como incentivador do esporte. Mas, para que tudo isso viesse à tona e ela passar a "existir" para os brasileiros, foi preciso conquistar a medalha de ouro.

Se Zanetti e Sarah tivessem sido eliminados durante as disputas, provavelmente jamais descobriríamos que o Brasil tem, sim, potencial nas argolas e que é possível colhermos frutos quando o Poder Público incentiva o esporte.

A forma como o brasileiro vê o esporte ainda tem como ponto de partida uma única modalidade: o futebol. Encerrada a disputa de Londres, a tendência é que só voltaremos a falar de argolas ou judô feminino em massa daqui a quatro anos, nos Jogos do Rio.

Enquanto esta cultura for mantida, continuaremos a desconhecer o potencial que o País tem nessas modalidades, que lutam anonimamente e com poucos recursos para obter resultados.

Assim, o Brasil, uma nação incipiente em entender o esporte na forma macro, que colhe resultados de forma isolada e pouco sistemática, está há quatro anos de um dos maiores desafios em termos de organização, que é receber uma Olimpíada.

E nessa esfera, também somos incipientes: um novo velódromo será construído no valor de R$ 115 milhões, para substituir um outro que foi erguido no Pan de 2007. Naquela época, falava-se de um legado que, como vemos agora, não aconteceu e exige-se mais dinheiro para o legado olímpico.

Legado? Mas quantos de nós saberia dizer hoje nomes brasileiros nessa esfera esportiva que usa o velódromo, assim como os de Zanetti e Sarah antes de suas conquistas? Somente sediar competições internacionais não mudará a forma como vemos o esporte.

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