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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Discurso inconveniente

Artigo publicado na versão impressa da edição de 24 de setembro de 2012:

Atordoados com o futuro sombrio que, até este momento do julgamento do mensalão, se materializa, quadros do PT começaram um movimento que nada dignifica a sigla e o processo democrático: declarações para desmerecer o que já não tem justificativa e o enquadramento de afirmações ao sabor das conveniências.

O deputado André Vargas, secretário de Comunicação do PT, detectou o problema do julgamento: as transmissões da TV Justiça, "um risco", segundo ele, "à democracia", no qual questões técnicas nem sempre são levadas em conta.

 Em 2009, o ex-ministro Antonio Palocci, quadro respeitado do partido, foi absolvido pelo mesmo STF, que rejeitou a denúncia oferecida pelo MP por possível envolvimento do petista no episódio da quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Na época, não ocorreu, a nenhum petista, contestar a exibição do julgamento ao vivo pela televisão.

A TV Justiça foi criada com o mesmo objetivo das TVs Câmara e Senado: possibilitar a todos o acompanhamento dessas instituições.

As TVs públicas permitem, inclusive, ao PT usar imagens para conveniência própria. Na Bahia, o candidato local da sigla usou o vídeo do discurso do então deputado ACM Neto, em 2005, na tribuna da Câmara, quando, num episódio reprovável, ameaçou dar uma surra no presidente Lula. Não existisse a TV Câmara, não haveria uso da imagem.

Voltando ao mensalão: a transmissão ao vivo não parece influenciar tecnicamente nenhum ministro.

Corajosamente, e contra muitas opiniões pré-formadas, Ricardo Lewandowski parece bem a vontade para, tecnicamente, divergir do relator Joaquim Barbosa. E os demais ministros, para votarem conforme entendimentos próprios, que não foram, até o momento, igual aos do PT.

O problema - para o PT - é que as teses que suas lideranças defendem estão sendo vencidas na Justiça.

Mal começou o julgamento do capítulo do esquema de compra de voto, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT), disse que o mensalão é uma "falácia".

Dias depois, o partido, unido a siglas aliadas, sustenta que os adversários pressionam o STF para transformá-lo num julgamento político e golpear a democracia. Isso tudo antes de José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares serem julgados - até aqui, João Paulo Cunha foi o único petista julgado (e foi condenado).

Se o PT continuar com estes mantras, só tende a ficar mais enfraquecido caso o STF confirme a existência do mensalão e puna os responsáveis. O discurso ficará no vazio, varrido pela sentença.

Caso ocorra absolvição, como ficariam as desqualificações aos ministros? O STF viraria, nesse caso, símbolo da Justiça no discurso do partido? Aguardemos as próximas semanas.

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