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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Xenofobia dissimulada

Artigo publicado na versão impressa da edição de 7 de janeiro de 2013:

Sem querer discutir o mérito dos indicados para o secretariado de Paulo Hadich - além de ser uma escolha pessoal do prefeito, isso demanda a necessidade de se dar tempo para mostrar trabalho e, especialmente, nenhuma tendência a fazer condenações sumárias sem ser a instância competente para tal -, quero me ater a uma discussão a qual constato um grau de xenofobia dissimulada, perigoso e sem sentido, corrente em Limeira: a vinda de pessoas de outras cidades para trabalhar em Limeira.

Primeiramente, o local de nascimento ou residência de uma pessoa não determina se ela é competente ou não para exercer uma função.

Em segundo lugar, é ponto comum no mundo corporativo, e perfeitamente extensivo ao poder público, que ninguém consegue sucesso sozinho, sem ajuda de outras pessoas, direta ou indiretamente.

Assim, o problema propalado pelo discurso bairrista, de que trazer uma pessoa de fora para comandar uma área pública em Limeira não é possível pois a pessoa não conhece a cidade e suas necessidades, é contornável se esta pessoa, além de ter bagagem técnica ou política que o habilite ao cargo, se cercar de pessoas que a conheçam e, é claro, tiver a disposição e vontade de conhecer a cidade.

E, no caso do secretariado de Hadich, há uma questão numérica: a grande maioria no primeiro escalão nasceu ou mora em Limeira. Os de fora são minoria.

Evidente que uma prática dos partidos, a de ocupar as funções com quadros da sigla, ajuda a desgastar, junto à população, a imagem dos que chegam de fora.

Tercio Garcia e Paulo Zeraik, que vieram de outras cidades com experiência na área que atuam (e cada um com histórico de problemas particulares), têm o ponto comum de integrarem grupos políticos que estavam no poder em suas respectivas cidades e perderam as eleições em outubro. Daí surge um questionamento natural de eventual "acomodação". Isso, porém, não justifica o discurso raso de que o governante deve nomear só pessoas de Limeira.

O discurso bairrista esbarra em outras realidades locais. Ele não faz sentido numa cidade que tem, segundo os dados do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 107 mil moradores que nasceram em outras cidades, 38% dos habitantes (ou 4 em cada 10 residentes), 78% deles instalados aqui há mais de dez anos.

Cito outro ponto. A cidade lutou muito tempo pela vinda do câmpus 2 da Unicamp, que trará inegáveis avanços à cidade. A grande maioria dos estudantes é de fora, e não vejo ninguém protestar contra isso, até porque seria absurdo. A mistura de culturas é boa para qualquer localidade.

O bairrismo defende a valorização das pessoas de Limeira. Concordo. Mas, em relação ao serviço público, entendo que a valorização que mais importa não se faz somente empregando-os no poder público, mas sim o que o contribuinte recebe do poder público pelos impostos que paga para sustentá-lo. É isso que devemos cobrar.

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