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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

A convicção em três meses

Artigo publicado na versão impressa da edição de 17 de dezembro de 2013:

Há um conceito que a política neste país insiste em desafiar: a convicção, "crença ou opinião firme a respeito de algo, com base em provas ou razões íntimas", segundo o Houaiss.

Três meses atrás, Totó do Gás e Lemão da Jeová Rafá, candidatos a vereança pelo PSC, estavam no grupo que pedia voto para Eliseu Daniel, que tinha como concorrente o hoje prefeito Paulo Hadich. O grupo em torno de Eliseu defendia projeto diferente do grupo de Hadich, este último o vencedor.

Apuradas as urnas, ambos foram eleitos e passaram a ser representantes de todos os limeirenses.

Vem a eleição à presidência da Câmara, o PSC, com a convicção do projeto em torno de Eliseu, defendeu o apoio dos integrantes da sigla à Miguel Lombardi (PR), que esteve com Lusenrique Quintal (PSD) nas eleições - para registro, o grupo de Eliseu pediu a cassação de Quintal. Totó e Lemão votaram em Ronei Martins (PT), aliado de Hadich. "Votamos de acordo com a opinião do povo e pela governabilidade", disse Totó. "Votamos conforme nossas convicções", disse Lemão, ambos no dia da eleição.

Defendo que o vereador tem que ter a liberdade de votar como ele entende o que seja melhor à cidade.

Quando Piuí votou em Elza Tank para presidente da Câmara, e não em Mário Botion, do seu partido, o PR expulsou-o e pediu sua cadeira na Justiça. Impecável, o juiz Adilson Araki Ribeiro foi taxativo: "O vereador é livre no convencimento das decisões, palavras e votos, sendo que precisa prestar contas tão somente à consciência na defesa do interesse público".

É por aí mesmo. O mandato, porém, não pertence ao vereador, mas ao partido, conforme a Justiça - é o partido, organização de união (ninguém é obrigado) de pessoas com afinidades de pensamento (em tese), que lança candidatura, registra, dá suporte e presta contas.

Totó e Lemão votaram corretamente se pensaram em suas convicções. O questionável é que a convicção de janeiro não bate com a de outubro. E foram só três meses.

Há mais: o PR tinha convicção em Quintal, pediu votos a ele, e não para Hadich - o primeiro tenta, na Justiça, tirar o segundo do Edifício Prada.

Não obstante, três meses depois, mudou de convicção (parece) e integra o governo Hadich.

Érika Tank e Farid Zaine tinham convicção e pediram votos para Kléber Leite, que tentou - e não conseguiu - tirar Hadich da cadeira.

Não obstante, os dois se afinaram com o projeto de Ronei, e pessoas ligadas à Elza passaram a integrar o governo Hadich.

A eleição tem que ter dia e hora para acabar.

Com o ganhador definido, a cidade passa a ser maior que todos, e é nela que os vereadores - e qualquer outro político - devem pensar. Mas, se três meses são suficientes para uma convicção ideológica partidária mudar tão radicalmente, é sinal de que não havia convicção (crença firme) alguma quando pediam votos lá atrás. E isso é o que o cidadão comum tem dificuldades para entender.

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