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sábado, 28 de julho de 2012

Única

Artigo publicado na versão impressa da edição de 16 de julho de 2012:

O tamanho da dimensão política de Elza Tank, falecida na última sexta-feira, pode ser medido na tese, corrente nos bastidores, de que o futuro de Silvio Félix não teria sido o que foi caso ela tivesse condições para comandar aquela sessão histórica.

Quem crê neste argumento se baseia numa das características que foi o forte da vereadora em toda sua vida pública: a lealdade com quem estivesse, ocorresse o que ocorresse. O que não é pouco perto do que vemos na política atual, independentemente do mérito que se discuta.

Elza esteve para a política limeirense como o cartola Eurico Miranda esteve para o futebol carioca: quem estava ao seu lado a adorava por isso, e quem estava do outro lado, nutria contrariedade pelo modo como ela atuava.

Filha da mesma escola que produziu personalidades hoje raras na política local, como Jurandyr Paixão e Paulo D'Andréa, Elza passa incólume às críticas feitas ao revezamento - e descontinuidades administrativas - dos antigos rivais, ao, com perspicácia, saber se posicionar no tabuleiro sem se expor às intempéries da vida política.

Ajudou-a, também neste sentido, a carreira forjada no populismo, no contato direto com a massa, especialmente com as mulheres.

Quando Elza chegou pela primeira vez na Câmara, era a única mulher entre os eleitos. Dali em diante, a ascensão da vereadora nos votos e na liderança e influência conquistadas foi uma consequência natural da habilidade com que preencheu as lacunas com uma carisma inigualável no trato com as pessoas mais simples (e nas ações práticas para melhorar a vida delas) e tenacidade para enfrentar seus adversários.

A morte de Elza põe fim a um ciclo político que, para muitos, não deixará saudades, mas, indubitavelmente, fica para sempre na história de Limeira.

Ela foi a última representante local de uma era na qual os políticos construíam carreira com ações feitas diretamente com a população (por vezes assistencialistas ou com tons de clientelismo) e nos discursos incisivos (por vezes autoritários) contra adversários políticos.

Sua saída de cena e a eleição que se avizinha abrem espaço para o surgimento de novas lideranças, mas agora numa época de leis com mais restrições, Ministério Público mais vigilante, em que as informações públicas, outrora retidas por conveniência política, precisam ser dadas por força de lei a qualquer cidadão.

Uma época que dificulta o surgimento de personalidades como Elza. Se isto é bom ou ruim, o tempo dirá. Por ora, fica a certeza de que a emoção da população na sua despedida resume a lembrança que ficará no imaginário popular: uma mulher única.

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