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quarta-feira, 4 de julho de 2012

Pretender e fazer

Artigo publicado na versão impressa da edição de 2 de julho de 2012:

"Tem tanto 'pepino' aqui que você não pode imaginar". A frase do prefeito Orlando Zovico a João Valdir de Moraes se transforma num símbolo do que pode ser a maior contribuição dele à corrida eleitoral neste ano: a demonstração de que, entre o que efetivamente se pretende fazer, enfatizada em discursos, e aquilo que se faz na prática, vai um longo caminho.

Em abril, Zovico e o secretário de Transportes, Rodrigo Oliveira, foram taxativos em afirmar que nenhum reajuste à tarifa seria concedido caso melhorias efetivas não fossem implementadas.

O discurso, é claro, foi bem recebido pela população. Seguia a lógica "primeiro, os usuários; depois, as empresas". Na condição de poder concedente, este entendimento deve(ria) sempre prevalecer.

A prática foi diferente. Só dois meses se passaram e, na sexta-feira, o próprio secretário, ao anunciar o reajuste, admitiu que houve melhorias, mas que o transporte coletivo ainda não é satisfatório.

Nas ruas, as reclamações não param e o aumento foi recebido com indignação. Roda saindo do ônibus em pleno movimento deixou de ser incomum. A lógica foi invertida: "primeiro, as empresas; depois, os usuários".

No caso da merenda, após uma sequência de constatações de horror na qualidade das refeições, Zovico anunciou a municipalização, foi à Justiça enfrentar a Le Barom e pediu, pessoalmente, ajuda ao Ministério Público.

O discurso, é claro, foi bem recebido pela população. Exceto à primeira medida, a prática foi diferente: logo desistiu do processo, tornando o parecer do MP inútil, ao passo que trouxe, para cuidar da merenda, a responsável pelo galpão onde foram constatadas as irregularidades que levaram, justamente, à municipalização, num procedimento que causou estranheza ao próprio MP.

A operação tapa-buracos, que só começou recentemente após a cidade virar um "queijo suíço", também é bastante reveladora. Zovico levou meses para concluir uma licitação, enquanto as crateras se abriam diariamente. "A própria máquina é emperrada", disse ele.

Não é novidade alguma a burocracia no setor público ou as condições colocadas em contratos. A administração pública é, no dia a dia, mais complexa do que imaginamos.

Daí vem a importância do eleitor procurar questionar os candidatos a prefeito sobre como pretendem fazer aquilo que propõem. Pagando, também, pelo fato de ter ficado ausente da prefeitura durante todo o governo Félix (o que não se espera de um vice), Zovico pode servir, ao menos, como um exemplo aos eleitores e candidatos, da diferença entre o que se diz e o que se consegue fazer.

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