Artigo publicado na versão impressa da edição de 26 de março de 2012:
Receber um evento da magnitude da Copa do Mundo é uma oportunidade de ouro, para qualquer país.
Para uma nação emergente, os benefícios que se vislumbram são maiores ainda, especialmente no campo econômico e no desenvolvimento do turismo. Mas, faltando pouco mais de dois anos da Copa brasileira, a sensação é a de que o trem está passando e a plataforma está próxima do final.
Os megaprojetos de mobilidade urbana, principalmente em São Paulo, continuam na fase de... megaprojetos.
O trem-bala, saudado em 2007 como a grande obra para a Copa, não deve ficar pronto nem para os Jogos Olímpicos em 2016, e já fala-se em deixar para a década de 20 - além de a viabilidade econômica ainda ser questionável, passado tanto tempo de debate. Na questão dos aeroportos, muito se fala e poucos foram os avanços.
Dos 12 estádios, só três devem ficar prontos para a Copa das Confederações de 2013, o torneio que é considerado o teste final do país para o evento.
Se isso se confirmar, o teste será feito em apenas 25% das sedes. É muito pouco.
Paralelamente, a Rússia, país da Copa em 2018, já definirá até o final deste ano suas sedes. Proporcionalmente, está mais avançado e recebe mais elogios da Fifa do que o Brasil.
A imagem do país quanto à capacidade de organização se definha aos olhos da comunidade internacional, numa oportunidade fantástica que o país tinha justamente de provar o contrário, e o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, trata de piorar a situação, num momento em que deveria fazer, também, o contrário.
Destrambelhadamente, ele saúda o nosso "jeitinho" à comunidade internacional: "O brasileiro tem um jeito próprio de organizar. Também temos os nossos problemas civilizatórios. Um deles é o do atraso, é uma coisa da nossa cultura, mas tudo funciona".
Num país em que o planejamento é levado a sério, ele seria demitido na hora.
Enquanto vamos mal em organização, o país dá exemplos de que não sabe resolver outros problemas internos no futebol. Uma ideia esdrúxula está prestes a ser posta em prática.
Como o Estado não é capaz de oferecer segurança de modo a impedir que um torcedor seja morto por outro rival, muito menos de levar os bandidos do futebol a punições exemplares e ao banimento do esporte, faz-se o mais fácil, com todas as características de improvisações: em Campinas, Ponte Preta e Guarani estão se acertando para que os próximos dérbis tenham torcida única.
Se isso ocorrer, a vitória é dos bandidos travestidos de torcedor, e o punido é o torcedor verdadeiro, que se vê impedido de levar a família para um entretenimento.
É o jeitinho brasileiro. Mas tudo funciona.
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