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segunda-feira, 23 de abril de 2012

Desilusões políticas

Artigo publicado na versão impressa da edição de 9 de abril de 2012:

A queda do senador Demóstenes Torres é emblemática.

Para quem não se lembra, Demóstenes foi, nos últimos anos, um dos mais ferrenhos combatentes (no discurso) da corrupção no Congresso. Ele foi o relator do projeto Ficha Limpa na mais importante comissão interna do Senado, e lutou para que a medida fosse implantada com o maior rigor possível para o mau político.

Há pouco mais de um mês, foram descobertas suas ligações com uma quadrilha de contraventores e sua carreira política ruiu. Coisas do destino: deverá sofrer as punições pelas quais lutou para que fossem implantadas.

Não é uma queda simples e Nelson Motta, em seu artigo em "O Globo", resumiu bem o que ela representou: "Sua desmoralização reforça a crença nefasta de que os políticos são todos iguais e provoca irreparável desilusão no eleitorado. E júbilo entre mensaleiros e aloprados".

Acusados de envolvimento em ilícitos que sofreram com o discurso implacável de Demóstenes comemoram o nivelamento, infelizmente, por baixo, da situação.

Nelson Motta, em outro trecho de seu memorável artigo, lembra que quem vai julgar Demóstenes no Conselho de Ética (?) do Senado são os "nobres" Renan Calheiros, Romero Jucá, Lobão Filho, entre outros. Estamos em boas mãos, não?

Esse cenário de desconfiança nacional em políticos se desdobra, também, em Limeira.

A cidade acabou de encerrar um período único - ruim, por um lado, por toda exposição negativa do município; bom, de outro ponto de vista, se considerarmos a unidade histórica de segmentos da sociedade -, em que o assunto "política" foi o mais comentado por pelo menos três meses.

Na pesquisa estimulada feita pela Gazeta/Limite, os votos brancos/nulos (18,5%) estão na ponta, num empate técnico com outros três candidatos.

No cenário estimulado, há candidatos de todas as vertentes: há quem sempre foi oposição a Félix, quem participou do processo de cassação na Câmara, quem esteve com ele por muito tempo e depois rompeu, e há quem ficou com ele até o fim.

Mesmo assim, a rejeição da população aos nomes que aí estão é elevada. Os 32% de intenções de votos a qualquer outro vereador que não sejam os atuais é outro indício de que o eleitor local não está contente com o nível atual.

Se o caso Demóstenes reflete bem o nível de desilusão do brasileiro em relação a político, resta uma lição: a vigilância eterna do eleitor deve ser feita com todos, a todo momento. Aos políticos, fica outra lição, também demonstrada pelo eleitor limeirense: a tolerância está cada vez menor.

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