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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Faca no pescoço

Artigo publicado na versão impressa da edição de 5 de dezembro de 2011:

Em 2007, após o Supremo Tribunal Federal (STF) aceitar a denúncia contra os acusados do mensalão, o ministro Ricardo Lewandowski foi flagrado por uma repórter afirmando, ao telefone, que "todo mundo votou com a faca no pescoço".

O que se passou na segunda-feira passada, no momento em que foi à votação o afastamento do prefeito Silvio Félix, foi algo parecido. Se algum vereador tinha intenção de votar contra a medida, foi obrigado a passar vontade e atender à vontade da turba.

Os fatos ainda são recentes e Limeira estará sob impacto permanente, nos próximos meses, do que foi (e virá a ser) revelado pelo Ministério Público, mas a noite do dia 28 permite dizer que, apesar dos insultos vis e lamentáveis proferidos aos montes em direção aos vereadores da ala governista, pela primeira vez a Câmara Municipal, que deveria ser o reflexo das vontades do povo, tomou uma decisão que refletia exatamente a percepção da população quanto às suspeitas envolvendo a família Félix, sem que o jogo político e as conveniências prevalecessem para favorecer o governante de plantão.

O resultado surpreendeu, especialmente, porque os vereadores limeirenses fizeram, num prazo de quatro dias, o que os edis de Campinas demoraram três meses para fazer - e lá havia suspeita de desvio de dinheiro público desde o início das investigações, o que não ocorreu por aqui.

Os vereadores governistas foram obrigados, na última segunda-feira, a pagar por todo um histórico de leniência e proteção a Félix, comportamento que ignorou indícios evidentes de problemas - um exemplo clássico: os aliados de Félix, ao aprovarem e elogiarem a licitação da merenda na CPI, não viram o que promotores, procuradores, juízes e oito conselheiros do TCE viram.

Teriam olhos diferentes? Não! Conveniência política.

Soube que Félix confiava em seus aliados para que não fosse afastado, mas, indiretamente, ele mesmo botou "a faca no pescoço" de seus companheiros.

Ter maioria para comandar uma administração pública é, sem dúvida, positivo para a própria cidade, mas, durante sete anos, Félix e seus aliados tratoraram os debates, com projetos complexos enviados na calada da noite para análise, utilizando os regimes de urgência especiais, e apequenaram a Câmara na fundamental missão de fiscalizar o Executivo, delegando a função para o Ministério Público.

Como o próprio Félix previu, haverá uma intensa batalha jurídica pela frente e, como o próprio rumo das investigações aponta, muitos fatos ainda virão à tona.

Mas a instituição Câmara ganha uma chance para, agora, atuar de forma condizente com suas atribuições.

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