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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Imprevisível

Artigo publicado na versão impressa da edição de 28 de novembro de 2011:

O prefeito Silvio Félix gosta de administrar Limeira, e pensa em política dia e noite. Nunca escondeu isso.

Essa convicção arraigou-se em seu comportamento, e Félix mantém-se firme no que acredita (que faz até os mais descrentes sentir vontade de querer acreditar nele, mesmo quando evidências mostram o contrário).

Enfrentou ações graves na Justiça, sem perder força política. Merenda, nomeações irregulares, supostos funcionários fantasmas, dispensas de licitações irregulares, nada disso o derrubou.

Mas o personagem que adentrou a sala para a entrevista com os jornalistas na quinta-feira tinha razões para estar sem chão.

"A situação me abalou demais, porque atingiu a coisa mais preciosa, que é a família".

A família é o núcleo que determina, quase sempre, rumos, comportamento e a construção dos valores de um indivíduo.

Ninguém está preparado 100% ponto para enfrentar um drama envolvendo as pessoas mais íntimas. Mas todo mundo enfrenta, diante da inevitabilidade.

Félix assim o fará; seu perfil diz isso. Como?

Embora não seja investigado, o prefeito sabe que não há como dissociá-lo das duas principais empresas, a Félix e a Fênix Plantas.

O que está sob suspeita não é apenas a imagem da família, mas uma história empresarial que fez Félix se projetar nas esferas social e empresarial, base para que pudesse se dedicar, posteriormente, ao que gosta: a política.

Mais do que nunca, é a família, Constância e os filhos, que precisa hoje de Félix, para que expliquem o que foi levantado pelo MP.

Por mais que diga que a cidade não pode parar, a linha divisória entre as questões na esfera particular (objeto da investigação) e na esfera pública é tão tênue que Félix (sem maldade, friso) já usou por duas vezes um espaço público (Sala de Reuniões do Gabinete do Prefeito) para falar sobre assuntos particulares.

Félix tem condições para se antecipar ao que a Câmara pode iniciar hoje e licenciar-se do cargo temporariamente para ajudar a família, medida que amenizaria o pesado clima instalado na cidade.

Ao fazer isto, daria mais tranquilidade para que a Câmara exerça seu papel de fiscalização e faça um julgamento político (não processual) e auxiliaria até os vereadores que tanto lhe ajudaram nos últimos anos.

Se tudo for explicado e as suspeitas não se confirmarem, ele volta, sem prejuízo à cidade.

Se permanecer no cargo, porém, Félix, além de dar margem para que a radicalização dos discursos vire ridicularização, corre risco de permitir que a dolorida ferida particular, já exposta e passível de agravamento a cada fato novo divulgado, enfraqueça a governabilidade e sua administração caminhe rumo ao imprevisível.

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