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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Daquilo que não se explica

Artigo publicado na versão impressa da edição de 12 de dezembro de 2011:

A tarde estava lúgubre, cinzenta, um dia feio de agosto.

Eu não tinha muito tempo para o passeio.

Molhado pelos respingos de uma torrente, saquei o aparelho do bolso e comecei a filmar.

E, num passe de mágica, em meio à brancura e à fúria das águas que se precipitavam ante meus olhos, surgiu, timidamente, cor por cor, um passadiço arco-íris.

Foi-se tão breve quanto apareceu, mas preencheu o encantamento de um cenário harmonioso da natureza.

Permaneci outros vinte minutos nas cataratas do Iguaçu, na expectativa de que o feixe de cores voltasse.

Mas não voltou, e eu não tinha mais tempo.

No primeiro dia de trabalho após o breve passeio, em meio à correria do dia a dia, toca meu telefone e, na linha, um pedido para uma conversa.

Quando chego à mesa, com seu costumeiro sorriso, ele já veio com a pergunta:

“E aí, Rafa, conheceu as cataratas?”.

Respondi-lhe, com as imagens voltando à minha mente, com uma pergunta, questionador nato que sou:

“Como é que aquilo se formou? Quem criou aquela maravilha?”.

Ele, que já tinha estado em Foz do Iguaçu, sorriu, pensou e disse:

“É.... como? Não dá para explicar, né?”.

Não, não dava, concluí.

Desde o momento em que nos damos conta da nossa existência e usamos aquilo que nos diferencia dos demais organismos vivos do planeta - a capacidade de pensar e ter consciência disso -, é natural que tentemos buscar explicações para o que está à nossa volta.

Fazer perguntas e procurar entender são ações intrínsecas à natureza humana.

Obter respostas não, apesar de conseguirmos explicações para tantas coisas.

Quando a ordem da vida (se é que ela tem ordem predeterminada) se inverte e um jovem carismático, do bem, como Lucas Piffer era, nos deixa de forma repentina, surge um ponto de interrogação gigantesco e uma, talvez, inútil tentativa, em nossa minúscula, imperfeita e sempre incompleta sabedoria, de compreender os sentidos da existência e os rumos que a estrada torta da vida nos impõe.

Consigamos ou não entender, é necessário prosseguir.

Tão incompreensível como buscar entender as razões pelas quais um arco-íris fugaz tinha de aparecer em meio às águas turbulentas nos poucos minutos que tive para apreciá-las; tão inexplicável quanto entender como um fenômeno da natureza, como as cataratas do Iguaçu, se formou.

Tão singular como, ao depararmos com a abrupta interrupção da existência de um ser humano querido, a vida se encarrega de relembrar, aos que ficam, que sua finitude e beleza, a serem descobertas nas pessoas com quem convivemos e nos pequenos gestos do dia a dia, são encantamentos a serem vividos intensamente, ainda que, em muitos momentos, ela própria, a vida, seja incompreendida.

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