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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Drama municipal

Artigo publicado na versão impressa da edição de 20 de fevereiro de 2012:

O modo mais rápido de encerrar uma crise política é atacar o problema em sua raiz.

A presidente Dilma bem o sabe. Com Palocci, nem mesmo a não abertura de investigação criminal bastou.

Para que encrencas pessoais não se transformassem em problema para o país, ele deixou o cargo, porque perdeu as condições políticas necessárias para exercê-lo.

Muita coisa aconteceu entre o Félix em êxtase de setembro (quando, no momento do anúncio da Samsung, cumprimentava efusivamente até adversários) e o Félix que um conhecido viu, no final de uma tarde de janeiro, quando, para ir até o escritório de seu advogado, olhou para os dois lados e só deixou o carro após certificar-se de que não cruzaria com ninguém.

As condições políticas mudaram, assim como mudaram para Palocci - curiosamente, ambos têm o mesmo advogado.

Um prefeito eleito assume a condição legítima de autoridade máxima de um município, representante de toda uma coletividade.

Para exercer a função, existe a necessidade da governabilidade, essencial para que os interesses da munipalidade se sobreponham aos individuais. O eixo principal dessa engrenagem é o respeito.

Quando isto se perde, nem mesmo a ausência de condenação definitiva por órgão competente faz o andaime de um governo permanecer de pé.

Em três meses, Félix deixou de ter a maioria na Câmara; deixou Zovico numa "fria"; dezenas de associações civis criticam sua permanência no cargo; a administração é investigada de ponta-cabeça.

Nas ruas, há um sentimento de perplexidade e um ponto comum: há sempre um amigo (ou parente) do amigo do amigo que, em outra cidade, Estado ou até país, já disse: "E o prefeito de vocês, hein?".

Em 28 de novembro, Félix disse que "teremos uma batalha jurídica pela frente". Usou o verbo que deixa subentendido o sujeito "nós". Mas quem enfrentará uma batalha jurídica? A família de Félix (ele se incluiu) ou a cidade?

Se os vereadores cassarem Félix, estabelecerão que o decoro para um homem público em Limeira não se coaduna com proximidade perigosa à sonegação fiscal, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e falsidade ideológica. Deixarão Félix livre para cuidar dos problemas que, por enquanto, são de sua família.

Se os vereadores não o cassarem, deixarão o conceito de decoro num patamar perigoso e transformarão os 278 mil habitantes da cidade sócios de um problema que não é deles, um drama pessoal transformado em municipal.

E dormiremos todos com a inquietude de saber qual novo problema amanhecerá nos jornais, tal como os ministros de Dilma.

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