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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Estado presente

Artigo publicado na versão impressa da edição de 16 de janeiro de 2012:

Gosto de ler e ouvir especialistas que acreditam num mundo plano, perfeitinho, com fórmulas - a maioria das vezes teóricas - para o sucesso de algo.

No fundo, eles são importantes para manter, sempre à espreita, o modelo ideal e fazer com que nós não deixemos de acreditar que aquilo é o que se espera, ainda que estejamos longe de atingi-lo.

Na semana passada, neste espaço, até resvalei muito no campo teórico sobre a CP, mas bastaram os fatos, que pertencem ao mundo real e, em sua natureza, pouco condizentes com aquilo que desejava esperar, para lembrar-me de que a realidade é mais complexa do que aparenta ou supomos.

O combate às drogas é um desafio permanente, de alta complexidade e ainda carente de uma fórmula que dê certo em nosso país, com a cultura e as características locais.

A operação feita pela Polícia Militar na Cracolândia, na capital, no início deste ano, recebeu uma saraivada de críticas - especialmente dos especialistas aos quais me referi acima - por ter sido uma ação desacompanhada de outras, voltadas para o campo social e da saúde pública.

Pior: virou plataforma política e parece ter sido a combustão para pré-candidatos à prefeitura da capital, principalmente os da oposição, lançarem suas postulações.

A presença da PM na Cracolândia é imperativo para o combate ao tráfico.

Ao traficante, não cabe outra coisa senão a punição, e é ele que abastece a degradação que se via a céu aberto na capital.

Criticou-se muito o fato de que a ação não poderia ter sido feita daquela forma, porque simplesmente espalhou o problema.

No Rio de Janeiro, a ocupação pelo Estado das áreas dominadas por criminosos também fez o tráfico migrar para outros locais, mas representou a retomada daquilo que o poder público perdeu por negligência.

Da mesma forma como os cidadãos precisam andar pelas favelas cariocas com a certeza de que o Estado está lá, o mesmo ocorre na região da Cracolândia em São Paulo, e em qualquer local deste país.

Evidente que a ação na Cracolândia paulista não é o golpe mortal ao tráfico e que há necessidade urgente de uma política pública e um trabalho diferenciado ao dependente químico, outras negligências estatais, mas o ataque fortuito à atuação da PM, a transformação da operação palanque político e a sustentação de que nada deve ser feito antes de planos ideais (bons na retórica, difíceis na aplicação) em nada vão ajudar no combate às drogas.

Melhor agir, adequar estratégias e conjugar forças aos poucos do que ignorar o problema e deixar reinante a ideia de que, em muitos locais, a população é subjugada pelo tráfico.

Sim, estes locais existem e pertencem ao mundo real. Por isso o Estado precisa estar lá, de alguma forma, mesmo que não seja a ideal.

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