Artigo publicado na versão impressa da edição de 30 de janeiro de 2012:
O prefeito afastado Silvio Félix admite, reservadamente, que a demora em responder aos questionamentos abertos com as investigações do Ministério Público sobre seus familiares não lhe é favorável.
Invoca a necessidade de preparar sua defesa jurídica, direito legítimo, mas que pode ser insuficiente para satisfazer as perguntas que os limeirenses fazem após 24 de novembro.
Sem as testemunhas, a CP teve como ato principal a presença de Félix para, de forma pública, dizer à população sobre o que sabe do que foi exposto em âmbito nacional.
Nas perguntas mais diretas, Félix usou o expediente jurídico para não dizer nada ao público, sob a fria alegação de que não respondia por terceiros nem tinha autorização.
Cabível no âmbito jurídico, mas não no político, o que importa na CP.
Não quando, entre os terceiros, há quem Félix até emprestou o sobrenome para tentar ser a representante de Limeira na Assembleia Legislativa.
Dias após as prisões, um dos filhos de Félix, Murilo, escreveu publicamente na internet, em seu Facebook, que "quando se consegue atingir uma aprovação de 82% da população, desmoralizar esta pessoa (o prefeito) vira algo muito desejável".
Uma afirmação carregada, como se entende, de tom político. Ele teve a chance de repeti-la na CP, se é assim mesmo que classifica todo o episódio.
Entretanto, não veio a público nem autorizou o pai a falar por ele. Cabível no âmbito jurídico, mas não no político.
O esforço de Félix de se agarrar firmemente aos entendimentos jurídicos protetivos a quem é investigado passa às vezes, também, por uma conveniência do momento.
Quando Félix diz que a prisão de familiares foi arbitrária, usa uma retórica política, cabível nestas situações, mas não considera o ponto de vista jurídico - que um juiz de primeira instância, um desembargador de segunda instância e dois ministros de terceira instância consideraram legais as detenções provisórias.
Aos 35 minutos do segundo tempo da CP, a exposição de documentos às escondidas e a negativa de explicações ao público na Câmara em nada mudaram a situação de Félix no Legislativo e as percepções da população - cujos representantes, neste processo de investigação, são os vereadores - sobre 24 de novembro ainda predominam.
Se os vereadores sustentarem que Félix deu respostas satisfatórias, mas não as justificarem, sob a alegação de sigilo, o clima político não irá se alterar, e o futuro de Limeira para o resto do ano ficará imprevisível.
Se quiser mudar o panorama - se é que isto é possível nessa altura -, Félix tem poucos dias para mudar a postura que adotou nos últimos dois meses com a CP, local onde ele tem que se defender, e, mesmo se o fizer, corre risco de não ser o suficiente.
E pode ser retirado do cargo da mesma forma como chegou.
Políticamente, e não juridicamente.