Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 28 de setembro de 2009:
Estreia sexta-feira nos cinemas o filme representante brasileiro na disputa a uma indicação ao Oscar.
“Salve Geral”, cuja ficção se passa em meio aos ataques do PCC às forças de segurança de São Paulo em maio de 2006, será mais um com a temática da violência a tentar conquistar público e jurados do mundo.
Não será o primeiro nesta área a tentar o feito.
Ao longo desta década, a violência foi enredo dos principais filmes que tentaram se consagrar na premiação – uns foram indicados; outros, nem lá chegaram: “Última Parada 174”, a história do sobrevivente da chacina da Candelária que manteve reféns em um ônibus no Rio; “Tropa de Elite”, sobre o polêmico pelotão da PM e sua forma de atuação; e “Cidade de Deus”, drama de um garoto pobre que resiste à tentação do caminho fácil da criminalidade.
Na década passada, “O que é isso, companheiro?”, disputou – e perdeu – o Oscar com a história do sequestro do embaixador norte-americano em meio à ditadura.
A violência é tema cativo de nosso cinema porque, ano após ano, continua a ser a mais resistente e rotineira realidade do País, atingindo todas as camadas sociais.
Por trás de quase todo ato criminoso, há sempre uma triste história para contar, que remete às nossas mais enraizadas mazelas sociais: desemprego, desagregação familiar, baixa ou péssima escolaridade, entre outras.
O retrato do País revelado pela Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD) de 2008 foi motivo de comemoração por mostrar melhoria em muitos indicadores.
Houve recorde de empregos, queda no desemprego, aumento na renda, maior escolarização entre os jovens, crescimento em conexão de internet.
Mas o País continua a pecar nos índices mais cruciais: pequeníssima queda no analfabetismo (ainda são 14 milhões de brasileiros nessa situação) e queda lenta na desigualdade de renda do trabalho.
Ainda temos apenas 52% das casas ligadas à rede de esgoto.
A pesquisa não captou os efeitos da crise, o que põe em dúvida o avanço daquilo que avançou.
Dizer que o País melhorou é possível, mas extremamente perigoso porque há áreas ainda muito sensíveis à maioria da população.
A (in) segurança é uma delas e se origina, principalmente, dos setores cujos indicadores o Brasil ainda não melhorou.
Sempre haverá uma triste história a lembrar os desafios que o País precisa vencer.
O cinema continuará a nos lembrar disso.
“Salve Geral” é boa pedida para recordarmos a que ponto a violência chegou – e que melhora em estatísticas pode estar distante da vida real de nossas ruas.
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