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terça-feira, 22 de maio de 2012

Preferência e desconfiança

Artigo publicado na versão impressa da edição de 14 de maio de 2012:

Ando com frequência pelas ruas de Limeira. Em um dos trajetos que faço ao menos duas vezes por semana, a travessia da Avenida Rio Claro no trecho da rotatória com a Avenida Maria Buzolin me dá um termômetro preciso sobre o respeito dos motoristas para com os pedestres.

Rotineiramente ponho os dois pés na faixa de pedestre para iniciar a travessia e me vejo obrigado a parar de imediato. Somente após uns seis ou sete veículos alguém se lembra e reduz a velocidade para ceder preferência à minha passagem.

Na capital, a reportagem da Folha de S.Paulo testou o gesto da mãozinha, símbolo de uma campanha de proteção ao pedestre lançada há um ano, em vários cruzamentos e foi solenemente ignorada. No mês passado, uma pesquisa da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de São Paulo apontou que, em 74% das situações verificadas, o motorista não respeita a faixa.

Índice alto? Não se espante. Há um ano, o indicador chegava a 90%. Mas, embora a realidade constatada seja esta, leiam este outro número da mesma pesquisa que identificou os 74% de desrespeito: 94,9% dos motoristas dizem que respeitam o direito de travessia do pedestre.

Se efetivamente os números correspondessem à realidade, nove entre dez motoristas parariam o veículo e o índice de desrespeito constatado deveria ser de 5% a 10%, e não 74%. Alguém aí se habilita numa faixa qualquer, seja Limeira ou São Paulo, a testar se nove entre dez veículos vão respeitar sua preferência?

Em meio a esses interessantes números, sugiro outros, obtidos em pesquisas pela mesma CET, recentemente.

Mais da metade dos motoristas não dá preferência nos locais onde há faixa, mas não há semáforo (caso da Avenida Rio Claro que cito no início), porque o pedestre, segundo eles, fica distraído, olhando para os lados, falam ao celular, conversam com outras pessoas ou se mostram desatentos fumando.

Já os pedestres, no mesmo levantamento, dizem que não pedem preferência por medo ou falta de costume, e esperam uma brecha para atravessar.

O que dá para entender com as pesquisas: o motorista ignora a lei da preferência, mas teima em não reconhecer isso, e culpa o pedestre. Este, por sua vez, não sente confiança no motorista e não ajuda a fazer valer a legislação.

A falta de confiança que um sente no outro corrobora a perpetuação do desrespeito e da ilegalidade, além de nada contribuir para um trânsito mais civilizado. Mas será possível confiar hoje em dia, tanto de um lado quanto do outro?

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