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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O ponto de interrogação como resposta

Artigo publicado na versão impressa da edição de 31 de outubro de 2011:

Confesso que ao ler as redações pré-selecionadas pelas escolas ao Prêmio Gazeta de Literatura, que couberam à minha avaliação, notei algo que, a princípio, me incomodou.

O tema deste ano era extremamente complexo (“Revendo os valores morais na vida em sociedade”), mas o ponto comum nos textos foi um pessimismo (por vezes exacerbado) nas observações dos estudantes sobre aspectos de nosso cotidiano.

A crise dos valores foi exemplificada em várias vertentes: desrespeito aos professores; brigas em família; revolta contra corruptos; falta de amor ao próximo; desrespeito ao meio ambiente, entre tantos outros.

O que fazer diante de tudo isso? A resposta que os alunos deram a esta pergunta, percebi, é o próprio ponto de interrogação.

Chamou-me a atenção o pessimismo quando observo a idade dos estudantes.

Eles ainda vão sentir, observar, revoltar-se, conformar-se, refletir com muitas outras situações próprias às diferentes fases da vida, que ainda não viveram.

Mas, estimulados com o projeto da Gazeta, já são capazes de observar (e passarem isto em texto) que a época em que vivem não é a mesma na qual seus pais viveram a infância, muito menos a de seus avós.

Interessante constatar que muitos alunos saudaram àqueles tempos, como se fosse a época em que gostariam de ter sido crianças ou adolescentes.

E estamos falando de um tempo em que não havia internet em casa, Orkut, Facebook, smartphones ou quaisquer outras parafernálias eletrônicas que trazem facilidades e são adoradas pelo público jovem.

Apesar do incômodo inicial, não preciso ir longe para entender as razões do pessimismo.

Leio nesta Gazeta: num dia, imagens, flagradas por câmeras, mostram adolescentes destruindo árvores (pelo simples gosto de destruição, sei lá?) que moradores estão cansados de replantar após vandalismos; noutro dia, estatísticas mostram que, por dia, há três relatos de agressões de alunos a professores; e constatamos que o desejo de pais entregarem seus filhos ao Conselho Tutelar é mais rotineiro do que imaginamos.

Daqui a 40 anos, é possível que o tema proposto este ano seja, quem sabe, repetido.

O que nossos futuros alunos observarão?

Existirão motivos para ansiarem ter vivido a época da juventude de seus pais, a que vivemos hoje?

Aos alunos que participaram do Prêmio Literário: não desanimem.

Observar, criticar, refletir e transmitir as percepções são enormes passos para futuras transformações.

E os pontos de interrogação que vocês fizeram, tenham certeza: somos todos nós que fazemos.

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