Pages

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Perdendo a hora sem saber lê-la

Artigo publicado na versão impressa da edição de 29 de agosto de 2011:

A revelação de casos de atos nada republicanos nos ministérios do governo federal não é, apesar da gravidade evidente, a pior notícia para o País nos últimos meses.

Esta veio na última quinta-feira, quando foram conhecidos os resultados da Prova ABC, feita com 6 mil alunos concluintes do 3º ano (antiga 2ª série) das redes públicas e privada.

Metade das crianças que participaram da avaliação demonstrou que não aprendeu os conteúdos esperados para o nível de estudo em que estão.

Aos 8 anos, elas não sabem ler horas e minutos em um relógio digital, desconhecem o que é um centímetro e não entendem qual é a serventia da pontuação.

44% dos alunos leem mal, 46% escrevem errado e 57% deles têm dificuldades sérias em matemática.

Quando a educação básica está nesse nível, é fácil antever as dificuldades que virão deste atraso.

A criança de hoje não sabe ler hora num relógio digital, mas já sabe mexer num celular.

Uma pesquisa, divulgada em 2010 pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação, mostrou que a grande maioria (64%) das crianças pesquisadas entre 5 e 9 anos já tinham usado um aparelho celular e 57% já haviam utilizado um computador.

Nessa faixa etária, 88% usam o celular para o jogo, 60% ouvem música. Na maioria, os aparelhos pertencem a algum membro da família, que os repassam para a criança usá-los.

Usar um celular ou computador não é um mal, por si só, à criança e não há meios de resistir às comodidades que a tecnologia oferece, cada vez mais acessível a todas as camadas sociais.

Reportagem de autoria da jornalista Kelly Camargo, publicada pela Gazeta, mostrou que especialistas já admitem que, no lugar de livros e cadernos na lista de material escolar, em breve estarão os tablets (computadores portáteis) - em Limeira, ainda neste ano, algumas escolas particulares começarão a adotar estes equipamentos.

A grande questão que fica, em relação à inserção da tecnologia no dia a dia escolar, é saber se as crianças conseguirão usar esta tecnologia para fixar conhecimento e, numa época em que não dá para ignorar as inovações, o desafio que se impõe aos educadores e, principalmente aos pais, é como conciliar as duas coisas sem que uma prejudique a outra.

Os resultados da Prova ABC deveriam fazer com que muitos pais, antes de presentear os filhos com celulares e computadores, procurassem saber se eles estão lendo bem, se conseguem ler as horas num relógio ou fazer contas básicas.

Como prêmio, aí, sim, poderiam vir celulares e computadores.

1 comentários:

Gi Franchini disse...

É triste ver a realidade Brasileira... A Educação é o pilar de sustentação para qualquer outro setor... É com ela que teremos melhores médicos, melhores policiais, melhores políticos... Principalmente melhores políticos. Não dá para se calar.