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segunda-feira, 25 de julho de 2011

Trabalho para gerações

Texto do jornalista publicado na versão impressa da edição de 25 de julho de 2011:

Quando pautei, nesta Gazeta, há algumas semanas, os dados sobre as autodeclarações dos limeirenses a respeito de etnia, compilados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Censo 2010, sabia que o tema era delicado.

O órgão oficial trabalha com cinco classificações: preto, pardo, amarelo, branco e indígena. Muitos estranharam, à primeira leitura, o emprego do termo preto, mas, longe de dizer se o mesmo é o correto ou não, a reportagem foi fiel ao que o IBGE utiliza, deixando, também, claro como a redação trabalha no dia a dia, seguindo o que pesquisadores consideram - negros como a soma dos que se declaram pretos e pardos.

Houve quem reclamou, mas houve quem entendeu após jornalistas explicarem as motivações.

Os dados de Limeira seguiram a tendência verificada em todo o País: aumentou o número de pessoas autodeclaradas pretas e pardas, porque há um sentimento crescente de autoestima e as pessoas estão assumindo mais sua identidade étnico-racial.

Motivos para comemorar? Em parte, porque há um longo caminho a ser percorrido.

Na sexta-feira, o IBGE divulgou novos estudos (em caráter amostral, com entrevistas feitas em 2008) sobre cor ou raça e um fato que me despertou atenção é como as classificações utilizadas pelo próprio instituto são frias e não condizem com o sentimento das pessoas.

Um exemplo: 21% dos entrevistados se declararam morenos e outros 7,8%, negros. Houve quem se classificou como mulato, mestiço ou claro. Todas essas classificações não são adotadas pelo IBGE, porém, refletem o que pensam parte expressiva dos brasileiros sobre si mesmos.

Por que há tanta discussão sobre esses termos?

A mesma pesquisa traz outros dados para refletirmos.

63% disseram que a cor ou raça influencia a vida das pessoas.

Indo a fundo nesta questão, 71% acreditam que isso afeta no aspecto “trabalho”; outros 68,3% citam que interferem na “relação com justiça/polícia”; para 78%, influem no “convívio social”.

Na Paraíba, 48% das pessoas apontam que a questão influencia no casamento.

Apesar do avanço no critério de autenticidade de identidade, o tema pesa, de diferentes maneiras, no dia a dia das pessoas e, em algumas regiões, permanece como um tabu.

Embora suscite polêmica, a questão étnico-racial no Brasil precisa ser debatida, acima de tudo, num ambiente de compreensão e respeito.

Num país de tantas diversidades culturais, constata-se quão sensível o tema é para os brasileiros em suas relações sociais e como, entre o que as pessoas pensam e o que elas dizem ao IBGE, há uma gama de fatores a serem descobertos, considerados e analisados. Trabalho para gerações.

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