Texto do jornalista publicado na versão impressa da edição de 11 de julho de 2011:
Se você não leu, sugiro que vá rapidamente buscar a edição deste mês da revista Piauí numa banca mais próxima. Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), dá uma entrevista que beira à ficção. Seria melhor se fosse. Não é.
Numa referência à imprensa, o comandante maior do nosso futebol diz: “Em 2014, posso fazer a maldade que for. A maldade mais elástica, mais impensável, mais maquiavélica. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada. Sabe por quê? Por que eu saio em 2015. E aí, acabou”.
Teixeira chama a imprensa brasileira de “vagabunda”, diz, com palavrões, que os negócios da CBF não merecem virar notícia (“Que p... as pessoas têm a ver com as contas da CBF?). Só se preocupa se alguma denúncia passar no Jornal Nacional. Quer fazer uma Copa impecável para virar presidente da Fifa.
Teixeira mostra por que é o dono do futebol.
Aquele amistoso que você, leitor, se prepara para ver com a família ou amigos, veste a camisa amarela e fica por duas horas na frente da TV, ou paga um valor exorbitante de ingresso para ir ao estádio e ver, muitas vezes, um jogo medíocre, é fruto de puro negócio. Porque é Teixeira que combina o valor do jogo da seleção, decide quem vai transmiti-lo e quem vai patrociná-lo.
Num país sério, onde as pessoas têm vergonha na cara, Teixeira não daria uma entrevista dessas porque haveria uma reação. No Brasil, não dá em nada. Ele mesmo admite isso.
Aqui permite-se que um evento do porte da Copa do Mundo seja comandado por ele, e não pelo governo.
Aqui, falam que não haverá dinheiro público na construção de estádios privados, mas surgem as manobras com o BNDES e as isenções fiscais monumentais.
Desprezam um estádio como o Morumbi por rixa pessoal.
A Copa de Teixeira ficará mais cara do que custou os últimos três Mundiais juntos e, se mantiver o ritmo de reajustes e incluir orçamentos de obras de infraestrutura, sairá mais cara do que todas as outras Copas juntas. Mas o brasileiro está se lixando.
Enquanto Teixeira é o dono, muitos clubes brasileiros vivem na penúria, disputando torneios financeiramente inviáveis.
E nós, torcedores, movidos pela paixão despertada pelo futebol, fazemos papel de bobo.
Pior: prestigiando o futebol brasileiro, acabamos por alimentar os pilares que permitem Teixeira fazer o quer e dizer as besteiras que quer.
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