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segunda-feira, 4 de julho de 2011

Os oportunistas

Texto do jornalista publicado na versão impressa da edição de 4 de julho de 2011

Alguém se lembra, não faz muito tempo, da avalanche de propostas de desarmamento no Congresso após um maluco - que é a exceção - cometer um massacre injustificável numa escola?

Aproveitando-se da comoção, legisladores e autoridades quiseram discutir algo já discutido, relançaram uma campanha cuja baixa adesão da população mostra seu equívoco e, nem três meses depois, as propostas já estão fora da pauta diária de quem as lançou.

Após a sequência de ataques cibernéticos a sites do governo e da invasão aos e-mails da presidente Dilma, ressurgem as propostas de tornar mais rigorosa a punição aos crimes virtuais e, apressadamente, um projeto sobre o tema pode ser votado já em agosto.

Ocorre que a proposta tramita desde 1999 e, neste tempo, milhares foram vítimas de ataques infames sem que nada fosse feito para reprimir os criminosos.

Agora, quando tocado pelo problema, parece que o governo levará a sério a questão. Ou passará agosto, os ataques aos sites oficiais e e as propostas sairão da pauta diária?

Quando há um evento de repercussão, os oportunistas tentam posar como autores das grandes ideias. Podem, infelizmente, ganhar adeptos, alguns votos, num primeiro momento, mas não passa de manobra para esconder a inércia com a qual lidaram com o assunto antes do fato.

Jogo de cena. Quando querem trabalhar efetivamente (traduzindo, quando é do interesse deles), não fazem questão de aparecer na mídia, o contrário do que fizeram após o massacre de Realengo e os ataques dos hackers.

A lei que promove alterações no Código de Processo Penal, que entra em vigor hoje, tramitou em silêncio no Congresso. Além de suprir as deficiências do Estado em resolver a questão penitenciária, a nova lei praticamente tira a chance de políticos criminosos irem para o xadrez - já era difícil antes, agora, quase impossível.

Outra mudança silenciosa em andamento: segundo o jornalista Lauro Jardim (Veja), o projeto que estende os efeitos da Lei Ficha Limpa para nomeação a cargos públicos recebeu parecer contrário da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), sob alegação de que o exercício de cargo público está relacionado à sobrevivência da pessoa e de sua família.

Se esse projeto for inconstitucional, é bem possível que todas as discussões sobre Ficha Limpa no serviço público de Limeira caiam por terra.

Como se vê, nenhum congressista aparece nessas horas para contestar, com unhas e dentes, esses projetos silenciosos.

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