Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 2 de agosto de 2010:
O livro que me caiu em mãos nos últimos dias coincidiu com a divulgação de uma cifra atordoante.
“Ordens do Executivo”, de Tom Clancy, parte de um ataque suicida de um piloto de avião que chocou-se contra o Capitólio, prédio do Congresso dos Estados Unidos, matando o presidente, congressistas e autoridades judiciárias, deixando o país à deriva e boquiaberto. O livro é de 1996, cinco anos antes do 11 de setembro.
Toda a paranoia norte-americana de insegurança, que ilustro com o enredo ficcional de Clancy, já fez a maior economia mundial, além de perder o controle operacional dos escritórios de informações estratégicas criados após o efeito Bin-Laden, gastar um trilhão de dólares (R$ 1,78 trilhão) em operações contra o terrorismo desde o ataque às Torres Gêmeas.
Foi o mesmo montante que a Europa aprovou em maio para salvar sua moeda e impedir uma onda de calotes.
Se você empilhasse um trilhão de reais em notas, atingiria a altura de 3,3 milhões de prédios de 100 andares cada; lado a lado, as notas dariam mais de 3,5 mil voltas na Terra.
É dinheiro à beça. Como é também a previsão de faturamento das empresas do setor de segurança privada no Brasil neste ano: R$ 15 bilhões.
O número de profissionais que atuam em segurança patrimonial no País ultrapassou o efetivo da PM – são 450 mil vigilantes contra 310 mil PMs nos 27 Estados, diferença de 45%. O mercado privado de segurança cresce em ritmo anual de cerca de 14%.
Se um prêmio de R$ 2 milhões da Mega-Sena já nos permite toda a sorte de imaginações quanto às possibilidades de gastá-lo em ações positivas, fazer o mesmo com toda a dinheirama investida para conter nossos medos, seja nos EUA ou no Brasil, parece surreal.
E faço a pergunta inevitável: o mundo, o País ou a sua cidade ficaram, depois disso, mais seguras, ou melhor, passam a impressão de mais segurança? Estatísticas e situações cotidianas não faltam para por um pingo de dúvida em nossas respostas.
Debater as políticas e, principalmente, onde e como estão sendo gastas as verbas destinadas à segurança pública, faz-se necessário com a aproximação das eleições de outubro.
Cabe ao eleitor procurar saber o que seu candidato pensa a respeito disso e suas propostas.
Cada real mal gasto nessa área implica em você investir outro real para garantir o que o primeiro deveria suprir.
E a conta aumenta desapercebidamente, assim como o apito do vigilante noturno na rua soa para que você não se esqueça de pagá-lo no final do mês, mesmo já tendo fechadura dupla na porta da frente, cerca elétrica, alarme, travas...
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