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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Mudança pela arquibancada

Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 9 de agosto de 2010:

O desabafo tinha tudo para ser legítimo. Pais que estiveram no Limeirão no último dia 1º se espantaram com o cumprimento de uma portaria, que proibia a permanência de crianças menores de seis anos no local – o estádio há anos não tem lotação e assistir a uma partida de futebol com o filho no fim de semana, afinal, é boa diversão, diante de tanta falta de opções.

Porém, do outro lado, existe uma preocupação da Vara da Infância e Juventude em fazer cumprir o Estatuto da Criança e do Adolescente, e evitar expô-los a situações de risco.

E hoje, no País inteiro, conseguiu-se tirar do campo de futebol o conceito que ele tinha de possuir por natureza: um ponto de encontro para o lazer e a diversão com os amigos e a família.

Tivesse ocorrido o contrário, uma briga de torcidas que provocasse o pisoteamento de uma criança, quem estaria como vidraça seria a Polícia Militar, Vara da Infância e Juventude e entidades que cuidam de crianças.

Daí que até mesmo o excesso de zelo torna-se tolerável para, pelo menos, dar o ponto de início à discussão.

E é dessa forma que é preciso encarar o episódio do Limeirão: ponto de partida para o diálogo. Tanto a presidência da Inter quanto alguns pais que ficaram revoltados com a situação erraram num ponto: desconhecer uma portaria que, teve sim, divulgação por parte desta Gazeta, no final de junho. E talvez tenha faltado à PM uma simples conversa prévia com a Inter para que a fiscalização fosse efetivada sem polêmica alguma.

Num primeiro momento, o rigor parece exagero. Mas uma demonstração firme de que há segurança, com argumentos baseados em evidências, pode até ajudar numa negociação que vise um acordo.

Infelizmente, o trabalhador que quer levar o filho para um evento esportivo hoje é punido por causa de marginais travestidos de torcedores que, nos últimos anos, associaram um estádio de futebol ao conceito de insegurança.

Uma mudança nessa visão só acontecerá com transformações radicais de administradores de estádios, clubes de futebol, dirigentes, torcedores e da própria sociedade como um todo. A longo prazo, portanto.

Até lá, a medida de impedir uma criança de assistir uma partida da Inter na última divisão do Paulisão continuará a soar como exagero, embora prudente.

Cabe a nós, torcedores, mostrarmos que conseguimos fazer do estádio um local em que crianças não estarão em situação de risco. A mudança começa por quem está na arquibancada.

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