Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 5 de julho de 2010:
O sucesso do Brasil na África seria um prêmio ao trabalho de longo prazo, do planejamento desenvolvido nos últimos 4 anos.
Dunga foi contratado para encerrar uma era de badalação consagrada pelo fiasco da eliminação da seleção diante da França em 2006 e implementar o que se espera de uma equipe de funcionários numa empresa: disciplina e concentração para obtenção de resultados.
O caminho trilhado mostrou-se surpreendentemente adequado, especialmente quando analisado o cumprimento de metas.
Com seus homens de confiança, e não necessariamente os mais qualificados, Dunga faturou a Copa América em 2007 e a Copa das Confederações em 2009, liquidou a Argentina em três vitórias incontestáveis, bem como a Itália, derrotada duas vezes de forma impiedosa pelos seus comandados.
Até antes do jogo contra a Holanda, o treinador tinha 69% de aprovação dos brasileiros.
Bem, e daí? Fracassou.
A Argentina (escrevo antes do jogo contra a Alemanha) fez tudo errado em questão de planejamento.
Nos mesmos 4 anos da 2ª Era Dunga, colecionou fiascos, virou freguês do maior rival, demitiu o técnico para inventar um novo, Maradona, um falastrão que, para montar um time, chamou uma penca de jogadores e esteve ameaçado de não ir para o Mundial, o que lhe rendeu críticas da crônica esportiva local - além disso, não conseguiu construir uma defesa sólida, e abriu mão de jogadores experientes. Ainda que não ganhe a Copa, nossos vizinhos deixaram melhor impressão que o Brasil.
Passar da primeira fase na Copa era um planejamento audacioso do bicampeão Uruguai, última seleção a garantir vaga no Mundial após uma repescagem - chance final para os derrotados na campanha normal.
Sem estrelas e afastada da elite futebolística após gerações fracassadas de jogadores, a Celeste era para ser figurante, mas conseguiu chegar onde o Brasil metódico de Dunga não chegou. Ainda que não ganhe a Copa, deixará melhor impressão que o Brasil.
O que diferenciou estas três equipes, e o fracasso do time de Dunga, é que este, ao contrário daqueles, não tinha nenhum integrante que, justamente, se diferenciasse do comum.
O time certinho, excessivamente planejado, que cumpria a cartilha seguindo as regras, que fez pacto para não falar com a imprensa (uma bobagem), que fazia treino secreto (para quê?) como se escondesse um segredo de Estado, fechou-se também para a criatividade, a invenção, a magia, as características do futebol brasileiro, melhor expressadas num Ronaldinho Gaúcho e Adriano, que, ainda com problemas extra-campos, tinham mais chance de decidirem que Luís Fabiano e Daniel Alves.
Faltou ao Brasil ser um pouco mais “fora da ordem”, criar o improviso, faltou a dose boa de loucura que o atacante uruguaio “El Loco” Abreu teve para, ao contrário da seleção de Dunga, entrar para a história, mas de forma positiva.
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