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segunda-feira, 12 de julho de 2010

Assassinadas

Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 12 de julho de 2010:

Assim como centenas de mulheres Brasil afora, Eliza Samudio já havia demonstrado para o Estado que seu relacionamento com o goleiro Bruno não ia bem, quando, em outubro de 2009, foi vítima de sequestro e agressão, além de ser forçada a ingerir abortivos.

Mas a burocracia do poder público, na demora de conclusão de laudos e lentidão nas investigações, só permitiu ao Ministério Público denunciar seus agressores à Justiça no último dia 7, quando, além do que acontecera em outubro, o País e o mundo se assustavam com a brutalidade de outro crime, no qual lá estava Eliza, a mesma vítima de nove meses atrás, e os mesmos agressores.

O caso Eliza Samudio tornou-se notório na semana em que um estudo revelou dados que assustam.

Segundo o Mapa da Violência 2010 divulgado pelo Instituto Sangari, entre 2003 e 2007 ocorreram 19,4 mil homicídios de mulheres no País, média de 4 mil por ano.

Entre 1997 e 2007, 41 mil mulheres foram assassinadas, 4,2 por 100 mil habitantes, índice acima dos padrões internacionais.

Realidade violenta que está distante de nós, afirmarão alguns.

Tremendo engano. Nesse mesmo estudo, constato que Limeira teve média de homicídios de mulheres acima de cidades vizinhas.

Entre 2003 e 2007, as 26 vítimas femininas de Limeira no período representaram taxa de 3,6 assassinadas por 100 mil mulheres.

Supera, seguindo o mesmo parâmetro comparativo, as vizinhas Piracicaba (3,4), Mogi Mirim (3,3), Santa Bárbara D’Oeste (2,7) e Americana (2,1).

Justificativas variam, mas, em geral, mulheres são mortas por razões torpes, como brigas domésticas e motivações passionais – num estudo de 23 casos pela polícia de São Paulo, apenas 10% dos assassinatos estavam relacionados ao uso ou à venda de drogas, circunstância bem comum entre as vítimas masculinas de homicídio.

Cabe a sociedade e ao poder público reforçarem permanentemente suas redes de proteção preventiva às mulheres, que, como Eliza, dão sinais claros da existência silenciosa da violência.

O Projeto Pérola, lançado há um ano pela Prefeitura, é valioso, mas precisa ser constantemente repensado ante as peculiaridades da violência, especialmente a psicológica, mais “invisível”.

E o Estado não pode ficar satisfeito em demorar nove meses para concluir uma investigação que deixou tantos rastros.

No caso de Eliza, foi o tempo necessário para lhe tirarem a vida.

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