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segunda-feira, 2 de maio de 2011

Regra e disciplina

Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 2 de maio de 2011:

Nas últimas semanas, tive oportunidade de conversar com empresários brasileiros, do ramo esportivo, instalados faz tempo na Espanha, além de conhecer um pouco aquele país.

Não quero escrever um artigo dizendo qual das nações é melhor em alguma coisa, dadas as diferenças históricas e culturais, mas penso ser válido transmitir aos leitores observações que podem servir de exemplo e o que compatriotas pensam, estando lá.

Os espanhóis são mais fanáticos por futebol do que os brasileiros - as TVs locais transmitem, ao vivo, três partidas da liga, todas em seguida, aos sábados.

Sabem fazer disso um modo de ganhar dinheiro e viver, girando a economia.

Não há um comércio no centro de Madri que não tenha produtos com logotipo de algum clube e há saída constante desses itens. O turismo, lá e em outros lugares, é levado a sério e não é um “patinho feio” no orçamento.

Perguntei aos empresários se no Brasil poderia ser feito algo parecido. Disseram-me: “faltam aos brasileiros duas coisas que prezam muito na Europa: regra e disciplina”.

No Brasil, mudar a regra, se e quando ela existe, ao sabor das conveniências, é para lá de comum.

No esporte, apenas em 2003 estabeleceu-se um calendário com datas e regras fixas que permitem ao torcedor - na Europa encarado também como consumidor - se preparar com antecedência.

Além de regras, é preciso que todos as saibam.

Na Espanha, ninguém joga papel na rua porque sabe que, além de ser um gesto mal educado, é proibido, passível de multa e de ser denunciado por qualquer outro cidadão.

Em Limeira, existe a mesma lei, mas não há campanha educativa constante que leve conhecimento à população; falta vontade, a muitos, de exercer seu papel como integrante de uma comunidade e denunciar quando veem o ato ilegal; faltam lixeiras nas ruas e a fiscalização é tão irreal quanto o Gasparzinho.

Igualmente, o motorista europeu para o carro quando um pedestre atravessa a rua, porque sabe que este último tem preferência, e cumpre o combinado, civilizadamente. Aqui, a buzina e os xingamentos vêm em primeiro lugar.

O Brasil, economia emergente, tem enorme potencial para ser uma nação de destaque neste século: há matéria-prima, recursos humanos, condições geográficas favoráveis, um povo acolhedor como nenhum outro, apesar dos dramas sociais históricos, que ainda existem.

Mas o desapego às regras e a falta de disciplina são problemas crônicos e ajudam a impedir os brasileiros de construir uma sociedade mais harmoniosa, saudável e coletiva.

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