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segunda-feira, 23 de maio de 2011

Aplausos a Higienópolis

Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 23 de maio de 2011:

Moradores de Higienópolis, região nobre de São Paulo, foram duramente criticados por manifestarem repúdio à construção de uma estação de metrô no bairro.

A fala de uma moradora, citando que a estação atrairia "gente diferenciada" (mendigos, pedintes e assaltantes), foi o estopim para uma saraivada de críticas à reação, tachada de "elitista".

Eu aplaudo a atitude dos moradores.

No Brasil, os contribuintes têm péssimo costume de aceitar passivamente as ações do poder público, que faz e desfaz diante dos olhos da população sem ela, muitas vezes, participar de decisões que influem em seu dia a dia.

Higienópolis fez o que todos os bairros - da capital ou do interior, nobres ou não - deveriam fazer: questionar um ato do governo que pode alterar - na visão de seus moradores, para pior - sua rotina.

A ideia de "gente diferenciada" denota um preconceito com o qual não compartilho.

Mendigos e pedintes são tão humanos quanto os higienopolitanos e possuem, perante a lei, os mesmos direitos. Um bairro nobre pode abrigar criminosos, tanto quanto outro qualquer.

Pertencer a uma classe social não dá salvo-conduto a ninguém.

Neste ponto, temos o direito de concordar ou não com essa visão sociológica da moradora de Higienópolis (reforço, eu discordo), mas daí a tirar a legitimidade do movimento do bairro vai um longo caminho.

Qualquer obra pública deve ser feita a partir de uma demanda de interesse coletivo.

Os críticos de Higienópolis deveriam, em vez de se apegar ao rótulo fácil da visão elitista, cobrar das autoridades se elas pretendem mesmo mudar os planos do metrô só por simples "pressão" de alguns em detrimento do interesse da maioria.

Todos têm o direito de opinar, protestar e defender o que é melhor para sua comunidade.

O Estado existe justamente para, dentro da lei, regular isso e atender ao interesse coletivo.

Quando ele se ausenta ou é tendencioso - o que pode vir a ocorrer em Higienópolis -, o Ministério Público e a Justiça têm prerrogativas para buscar corrigir os desajustes.

A cidadania seria melhor exercida no País se todos os moradores se reunissem, como fizeram em Higienópolis, para opinar contra aquilo que não concordam.

Em Limeira, o Parque Egisto Ragazzo foi reaberto porque se tornou um condomínio fechado ao arrepio da lei. Agora, de forma organizada e respeitando a legislação, pode ficar restrito novamente, por desejo e união de seus moradores.

Se os outros limeirenses querem o mesmo ou qualquer outra melhoria para seus bairros, organizem-se e cobrem seus direitos.

Sigam o bom exemplo de Higienópolis - o senso de participação comunitária e de mobilização.

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