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domingo, 27 de fevereiro de 2011

A praça (nem sempre) é do povo

Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 21 de fevereiro de 2011:

A praça que vejo todos os dias a caminho do trabalho não é a de Tahir, no Cairo, onde milhões de egípcios decidiram dar um basta ao atraso provocado por um ditador no poder há três décadas.

Também não é a Praça Castro Alves, na Bahia, cantada por Caetano Veloso, nem o local que inspirou o poeta baiano a traçar o famoso paralelo “como o céu é do condor” - no máximo, há passarinhos que a sobrevoam, um ou outro vira-lata que a visita.

Mas, assim como a Tahir e a Castro Alves, ela é do povo. Ou, ao menos, deveria ser.

É que o playground quase não se vê; para as crianças alcançá-lo, é preciso abrir clareiras no mato. Para os pais, é melhor (e recomendável) impedi-las de brincar.

Também deveria ser do povo a Praça do Museu, cartão postal que virou plataforma para vândalos demonstrarem suas pichações, onde tijolos amontoados da obra paralisada inexplicavelmente há cinco meses viraram “assentos” improvisados.

Também é do povo a Praça Toledo Barros, em especial dos limeirenses que tiveram a oportunidade de, carinhosamente, chamá-la de “Jardim”, num tempo em que ela tinha costume de receber famílias e jovens, dia e noite.

Hoje, há vontade da iniciativa privada em oferecer algo diferente aos limeirenses, um cafezinho na parte superior da Gruta, com vista privilegiada. Mas como o povo pode usufruir isso, se, na necessidade de usar um banheiro, encontra vestígios daquilo que transformaram faz anos num motel público e abrigo para consumo de drogas? Tudo na ausência da Secretaria Municipal de Segurança Pública.

Causa estranheza a qualquer limeirense sensato - incluindo pessoas da Secretaria de Esportes - a permanência de Limeira na disputa pelas subsedes da Copa do Mundo 2014 no Estado, após quase dois anos de avaliações.

Não que a cidade não seja capaz nem tenha potencial para tanto. Tem sim.

Mas várias de nossas praças - e podemos lembrar as áreas esportivas espalhadas nas periferias, centros comunitários, entre outros locais públicos - estão malcuidadas faz tempo, diante dos olhos da população e das autoridades.

Uma cidade que não consegue fazer sua população visitar as praças com segurança e prazer não conseguirá atrair um estrangeiro sequer. Cartões postais e bens públicos ficam bonitos em livros e fotos, mas causam vergonha ao limeirense que quer levar um parente de fora para conhecê-la.

Castro Alves escreveu: “Ninguém vos rouba os castelos, tendes palácios tão belos... deixai a terra ao Anteu”.

Pedido simples a quem tem a responsabilidade: deixem as praças para o povo.

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