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segunda-feira, 1 de março de 2010

Tudo na mesma

Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 1º de março de 2010:

O legislador brasileiro tem, entre variados defeitos, mania de “empurrar com a barriga” temas considerados complexos.

Pior que esse vício é um segundo que vem acompanhado do primeiro: tentar fazer agora o que podiam ter feito antes, sempre após um episódio de clamor popular.

Quando o adolescente conhecido como “Champinha” foi detido em novembro de 2003 sob acusação de ter idealizado o estupro e a morte da jovem Liana Fridenbach, então com 16 anos, e ajudado a matar o namorado dela, Felipe Caffé, 19, a onda de indignação injetou falso alarde no movimento que pedia a redução da maioridade penal.

Nada mudou. Seis anos depois, o Brasil volta a fazer as mesmas perguntas e se indignar ao ver o adolescente que participou da morte brutal do menino João Hélio, arrastado impiedosamente por sete quilômetros preso pelo cinto de segurança do carro roubado de sua mãe, ganhar proteção do Estado, decisão revogada após novo clamor popular.

Em 1995, quando torcedores de Palmeiras e São Paulo promoveram uma batalha campal no Pacaembu, televisionada para todo o País, que culminou na morte de um torcedor, pensou-se que havíamos chegado a um ponto-limite e que era preciso extinguir as torcidas organizadas.

Mas anos se passaram, esse tipo de torcedor continuou nos estádios, é financiado, muitas vezes, pelo próprio clube e recebe bênçãos até de intelectuais – lembremos do episódio do economista, respeitado professor da Unicamp, conselheiro de Lula e atual presidente do Palmeiras, Luiz Gonzaga Belluzzo, dizendo “vamos matar os bambis” numa festa da Mancha Verde, torcida organizada do Palmeiras.

Mais lamentável que a constatação de que um conterrâneo foi a vítima mais recente dessa guerra absurda de torcidas – e que poderia ser um parente ou amigo de todos nós -, é ver que novamente, após o clamor popular, projetos engavetados há tempos nas mesas de políticos voltam às mesas, como o que pune os torcedores – e a torcida organizada – violentos.

Não nos enganemos. Daqui a três anos, o acusado de matar João Hélio estará solto, o debate sobre a maioridade penal estará na mesmice de sempre, os confrontos de torcidas continuarão, bem como a indisposição dos parlamentares de debater e aprovar projetos polêmicos.

“Empurrar com a barriga” é tão fácil e lamentável quanto agir após o fato consumado. E nisso nossos congressistas são hábeis!

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