Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 22 de março de 2010:
O caso da mãe de Piracicaba que acorrentou o filho de 13 anos, viciado em crack, à cama na última semana, para não vê-lo morrer nas ruas, põe em evidência o estado falimentar do Poder Público quando se fala na oferta de tratamento a dependentes químicos, e o modo como encarar o problema das drogas, sendo saúde pública, com políticas públicas.
O poder destrutivo dos entorpecentes é conhecido há muito tempo, mas a estrutura oferecida pelo Poder Público, em todas as esferas, sempre esteve defasado.
Em Limeira, não é diferente. Somente no último dia 15 foi inaugurado o Centro de Atenção Psicossocial (Caps), ainda assim porque Limeira foi contemplada por um plano emergencial – atrasado, por sinal – elaborado pelo governo federal e para atendimento a uma decisão judicial, motivada por ação civil pública impetrada pelo Ministério Público.
Já em 2008, a Promotoria havia identificado um quadro de descaso por parte do Município em relação a programas de tratamento para menores dependentes de álcool e drogas – não só por isso, Limeira se destaca negativamente na quantidade de adolescentes envolvidos com entorpecentes que acabam na Fundação Casa.
Para exemplificar ainda mais o drama, em uma semana, a Gazeta relatou casos de duas meninas, uma de 13 e outra de 14 anos, que entraram em coma alcoólico e, na última sexta-feira, relato que chegou até nossa redação informava que, nas imediações da escola Prada, vários menores ingeriam bebidas alcoólicas, ignorando até mesmo a presença próxima de uma viatura da Polícia Militar.
Sob gestão do Sistema Único de Saúde, é dever do Município executar políticas públicas na área de saúde. Mas a Prefeitura há muito esbarra em problemas estruturais não só no trato com dependentes químicos.
A política de baixos salários afasta da carreira pública médicos de todas as áreas de especialização – faz anos que a cidade, assim como muitas outras, não tem um geriatra na rede pública, um contrassenso diante da realidade do envelhecimento populacional pela qual todo o País passa.
“O Brasil está com falta de psiquiatras”, disse o secretário municipal da Saúde, Gerson Hansen Martins, na inauguração do Caps. Não deixa de ser uma verdade, mas se o Poder Público (União, Estado e Município) não incentivar e atrair esses profissionais, o desinteresse persistirá, projetos travarão e o crack, assim como outras drogas, continuará a levar mães indiciadas pela polícia pela drástica tentativa de impedir à força que o filho seja tragado pelas drogas, em meio ao vazio deixado pela atuação do Estado.
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