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segunda-feira, 15 de março de 2010

Por um pedaço de pão ou atenção

Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 15 de março de 2010:

Por mais de uma semana ele ficou ali, estirado ao chão da praça, com o rosto coberto com um saco de lixo para se proteger do frio (ou para evitar olhar para todos?), um pedaço de pano para esquentar as pernas, as mãos para o alto, como se gritasse há tempos sem ouvir respostas, o corpo em estado avançado de inanição, enfraquecido, clamando por um alimento qualquer ou um copo de água que lhe devolvesse o sabor da esperança.

Há duas ou três semanas, na Rua Dr. Trajano, uma criança, menos de cinco anos de idade, chamava a atenção de quem passava pelo coração de Limeira. Ao lado da mãe, sentada na calçada, tinha os olhos desfalecidos, longínquos. Sorveu o frasco de água, oferecido por uma transeunte, como se fosse o último galho disponível para se segurar ante um penhasco. Permaneceu, ainda, trêmula de fome.

A pedestre dirigiu-se, então, a um estabelecimento, onde lhe disseram que já fora ofertado um lanche à mãe. Esta, questionada se tinha o que dar de comer à filha, tirou da bolsa o pão e só aí o entregou à criança – impossível dizer o que a levou a guardar para si o alimento, fica a critério de você, leitor, imaginar as razões (teria, por exemplo, outros filhos ou estaria usando a filha como isca para níqueis?). Diante dos transeuntes, a menina devorou o lanche com triste voracidade.

Estas são apenas duas histórias de nossas ruas, comuns não só em Limeira, mas em qualquer cidade.

No primeiro caso relatado, não se trata de um andarilho.

Ele tem residência em Limeira, já é conhecido dos órgãos públicos de assistência, cada dia está em um ponto do município.

É um problema crônico, alegou a Defesa Civil. Problemas familiares o levaram às ruas.

Conforme a Gazeta mostrou em janeiro, mesmo após operações realizadas pelo Poder Público no final do ano passado, pessoas jogadas às ruas continuam sendo vistas em vários pontos da cidade.

Nenhum comerciante ou morador gosta de abrir sua loja ou sua porta e encontrar alguém dormindo, estatelado ao chão, diante de seus pés.

Mas, por trás de toda mendicância, pedido de socorro, sensação de fome ou frio, há histórias verdadeiramente humanas, de falta de oportunidades, desestrutura familiar, problemas de saúde, alcoolismo, entre outros.

Antes do pedaço de pão, demonstrar atenção e colaborar, ainda que de forma tímida, mostra-se necessário não apenas aos órgãos públicos, mas de toda a sociedade.

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