Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 11 de janeiro de 2010:
Frequentemente em nossa trajetória profissional ou pessoal, é comum depararmos com situações em que, para obtermos uma determinada meta, precisamos deixar de lado impressões negativas que formamos a respeito das pessoas para estabelecer um convívio saudável que permita-nos atingir o que queremos. O diálogo é o caminho mais tradicional para tanto, mas, ainda assim, há um risco a ser encarado.
Desde o início de sua gestão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva jamais escondeu a vontade de levar o País a uma vaga fixa no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), órgão que zela pela segurança mundial.
Nesse contexto, intensificou viagens a países que sempre passaram ao largo da diplomacia nacional, como o Gabão, na África, em 2004, onde soltou aquela “pérola” de aprender com o ditador local como ficar 37 anos no poder e ainda se candidatar.
Em novembro, debaixo do nariz torcido de muitas potências ocidentais, Lula recebeu em Brasília o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, para quem o Holocausto, onde milhões de judeus foram mortos pelo regime nazista, nunca existiu. O iraniano é criticado também por suas reiteradas ameaças a Israel e pela repressão a liberdades civis, ocorrida em seu País, no pleito que o reelegeu, em junho passado.
Agora, na semana que passou, nosso chanceler, Celso Amorim, admitiu a possibilidade de o Brasil manter diálogo com o Hamas, grupo radical palestino enquadrado como terrorista por importantes países da comunidade internacional.
Em março, Lula tem viagens programadas para Israel, Jordânia e áreas palestinas, na tentativa de colocar o País numa posição de importância nos esforços para um acordo no Oriente Médio, assunto que já mereceu atenção de lideranças mundiais nas últimas décadas, com repetidos insucessos.
Qual é a vantagem de dialogar com um regime acusado de manter um programa nuclear clandestino cujo objetivo seria obter a bomba atômica? Qual o benefício para o País se intrometer numa questão secular não-resolvida através do diálogo com um grupo acusado de cometer crimes de guerra e atentados que mataram milhares de pessoas?
Ser ouvido e reconhecido na comunidade internacional é insuficiente para Lula, que parece querer conquistar a vaga no Conselho de Segurança da ONU projetando-se à frente com diálogos contestados pelas principais democracias da comunidade internacional.
Nos dois casos citados, o risco talvez seja alto demais. Será que compensa?
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