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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O Haiti de cada um

Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 18 de janeiro de 2010:

Para tragédias como a que se abateu sobre o Haiti, não há muitas explicações.

É difícil tentar compreender por que tinha de acontecer no país mais pobre da América, onde 47% da população é composta por analfabetos, 80% estão na linha da pobreza e mais de 70% vivem com menos de US$ 2 por dia.

É fácil, porém, entender por que o mundo e o Brasil hoje se voltam ao Haiti. Os laços são maiores até do que imaginávamos – conforme a Gazeta mostrou, há dois limeirenses que escaparam da morte em Porto Príncipe, capital devastada pelo terremoto. Não apenas pelos mais de mil militares compatriotas que há quase seis anos tentam estabilizar o país.

Nas tragédias, o sentimento de dor e de impotência é o mesmo, seja no Japão, país acostumado aos tremores de terra, seja nos países asiáticos devastados pelo tsunami, ou em nações com recursos para se recuperarem, como os Estados Unidos, abalados pela passagem do furacão Katrina, que devastou Nova Orleans em 2005.

Nem o Brasil, país teoricamente mais a salvo de terremotos, está imune às feridas provocadas pela ação da natureza. Curioso ver como a tragédia provocada pelas chuvas em Angra dos Reis já está escassa no noticiário brasileiro.

A destruição, por razões óbvias, é incomparavelmente menor, mas apenas em seu tamanho. A dor das famílias, os olhares assustados diante dos escombros, a incredulidade ante as consequências do imprevisto e a incerteza quanto ao futuro são iguais.

A tragédia haitiana mostra mais uma vez a fragilidade do homem ante a natureza, justamente um mês após as principais autoridades mundiais não se entenderem em como reduzir o impacto que provocamos nela.

E, nessa área, não há senão um cenário pessimista adiante. Quanto mais hesitarmos nas ações, piores os efeitos e 2010 está aí para nos lembrar disso.

Reconstruir a capital do Haiti será uma missão difícil, mas pode estabelecer uma nova postura das autoridades mundiais.

Achar culpados pela desgraça econômica e instabilidade política do país não vai resolver.

Quando a atitude humanitária for priorizada, como agora, em detrimento aos interesses econômicos, os países poderão manter esperanças de reduzir os “haitis” existentes em cada um. E eles são muitos.

Ao ver as imagens da última semana, lembrei-me, ainda, do verso de uma antiga canção: “Podia ser meu pai, podia ser meu irmão”. Dor é uma sensação humana, não haitiana.

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