Artigo publicado na versão impressa da edição de 19 de março de 2012:
O regime democrático é, geralmente, o mais aclamado sistema de governo porque, entre outras características, permite a alternância de poder.
Periodicamente, surge a oportunidade de trocar o comando, o estilo de administração e o pensamento político. E a democracia permite, também, que se opte, até um certo ponto legal, pela continuidade.
A questão é: qual o ponto certo para um governante parar?
Há exemplos em Limeira, no Brasil e no mundo. Na Rússia, é Vladimir Putin quem dá as cartas: em 1999 assumiu como primeiro-ministro; foi eleito presidente em 2000 e reeleito em 2004. Quatro anos depois, elegeu Dimitri Medvedev, mas voltou a ser primeiro-ministro, permanecendo como figura mais importante do país. Acaba de se eleger novamente presidente, e pode governar até 2024.
Na Venezuela, Chávez não larga o osso desde 1999 e, para se manter no poder, atropela todos os princípios democráticos possíveis. Em Cuba, o castrismo manda faz décadas.
No Brasil, Getúlio Vargas permaneceu 18 anos no poder, entre 1930 e 1954.
A vontade de ficar no comando fez o governo FHC criar o mecanismo da reeleição, em 1998.
O artigo "Reeleição para o Executivo Municipal no Brasil (2000-2008)", de Alvaro Augusto de Borba Barreto, que analisou 26 capitais, mais 32 grandes municípios, dá uma dimensão do impacto da reeleição: 84% dos prefeitos procuraram se reeleger e 72,5% tiveram sucesso - em 2008, o índice chegou a 89%. "Se a reeleição não tivesse sido aprovada, em todos esses municípios necessariamente o poder local passaria a outras mãos, embora não necessariamente a novos detentores do cargo", diz o artigo.
Em Limeira, Pedrinho Kühl e Silvio Félix se beneficiaram da possibilidade da reeleição.
O primeiro tentará voltar neste ano, apesar de ainda responder na Justiça sobre problemas em suas administrações.
O segundo, tirado do poder e mesmo sem condições políticas, usa todos artifícios judiciais possíveis para voltar ao poder, como fizeram Hélio de Oliveira Santos (reeleito) e Demétrio Vilagra, também cassados, em Campinas,
Evidente que a manutenção de um governante em todos os exemplos citados acima, fora Cuba e Vargas, ocorreu com o consentimento da população, o que legitima a opção.
Mas o gosto pelo poder dos políticos fica permanentemente vivo, diante das possibilidades que os sistemas oferecem.
Esperar deles o momento certo de se recolher é exigir demais.
Tal qual jogador de futebol, políticos raramente reconhecem o ponto certo de parar.
Cabe, mais uma vez, à população, fazer esse momento chegar até eles.