Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 20 de dezembro de 2010:
Difícil entender o que mobiliza o cidadão brasileiro.
Acaba de ser aprovado pelo Congresso Nacional um decreto legislativo que aumenta os salários dos deputados, senadores, ministros de Estado, presidente e vice-presidente.
Nossos legisladores se deram um espetacular reajuste de 62% na véspera do Natal. Deixarão de ganhar R$ 16,5 mil para receberem R$ 26,7 mil mensais.
Trata-se de um evidente escárnio aos brasileiros, planejado para ser votado exatamente na época em que os brasileiros menos pensam em coisas complexas, ansiosos que estão pela chegada do período de festas e do fim do ano.
Levantamento feito pela BBC mostra que, com o aumento, os congressistas brasileiros passarão a ganhar 8% a mais que os equivalentes norte-americanos e 84% a mais que os representantes do povo britânico no Parlamento local.
Ganharão, portanto, mais que os parlamentares de países desenvolvidos, o que permite que cobremos atuação de representantes de primeiro mundo – entendam este último raciocínio como um devaneio solitário.
Onde estão as entidades de classe e representativas da sociedade? A outrora combativa União Nacional dos Estudantes (UNE), que acaba de receber R$ 30 milhões de indenização da União por ter sua sede destruída pela ditadura militar no golpe de 1964, nada a dizer sobre o ato dos congressistas?
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), importante entidade nacional, não vai questionar a moralidade desse reajuste?
E você, caro leitor, já sabe quem votou a favor ou contra o reajuste? Se não sabe, aconselho o site www.congressoemfoco.com.br, que traz a relação dos parlamentares que aprovaram e dos que rejeitaram a proposta.
Com a dúvida que levantei no início, deixo uma questão: quando a população começará a cobrar efetivamente, no mínimo, mais respeito de seus governantes para com a administração dos recursos que ela os oferece?
Todo início de legislatura, ou de qualquer governo, é uma época propícia a essa atitude.
Para que exerçamos nossa cidadania, não basta, ao encontrarmos nossos representantes nas ruas, ou de quatro em quatro anos em visitas pré-eleitorais, os receber com aperto de mãos.
Boa memória, senso de fiscalização, coragem para cobrá-los e, principalmente, lembrá-los de que estão lá para defender os interesses públicos e coletivos, são produtivas ferramentas para o início de uma mobilização consciente e cidadã contra escárnios e abusos.
1 comentários:
Concordo que o aumento foi abusivo, mas também acho que, se quisermos pessoas menos afeitas à corrupção, temos que garantir um salario digno.
Se compararmos os salários de ministros, presidente, são compatíveis com salários pagos a diretores de médias empresas, enquanto nas grandes, a remuneração é quase o dobro, fora bonus e participação nos lucros.
Se quiseremos pessoas boas no governo, temos que atraí-las... E principalmente selecioná-las. Isto o mercado faz bem.. já os governos..
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