Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 20 de setembro de 2010:
A ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, saiu do cargo merecidamente.
Não devido à condenação feita pela mídia sem que houvesse a instalação de inquérito e o direito à defesa ampla e ao contraditório, como prevê a Constituição e sumariamente ignorados, nem mesmo às declarações feitas por um empresário condenado pela Justiça por crimes de receptação e coação.
Mereceu sair porque, em meio ao bombardeio, descobriu-se que, como José Sarney, tem familiares alastrados pelo governo em postos comissionados, preenchidos por indicação, e não por competência via concurso.
Vem à tona que a irmã de Erenice, em cargo chave no Ministério de Minas e Energia, autorizou a contratação de escritório de advocacia do qual seu irmão é sócio, sem licitação.
Não há, aparentemente, nada de ilegal na operação, mas, no mínimo, não é ético. Muito menos se tratando de parentes de sangue de quem ocupa o cargo mais importante na Administração Pública Federal depois do presidente da República.
Esse aparelhamento sutil, feito nas entranhas da máquina pública, é típico de quem não sabe separar o público do privado, missão básica para quem vai ocupar cargo num órgão mantido às custas do contribuinte.
Essa distinção Erenice, se teve um dia, jogou-a no lixo quando, ao defender-se das acusações, usou papel timbrado da Presidência (institucional, público, portanto) e citou indiretamente José Serra como candidato “aético e já derrotado”, misturando governo e campanha inapropriadamente.
Demissão merecida, assim como Sarney deveria ter saído quando sua árvore genealógica no Senado foi exposta em 2009.
Erenice não é e nem tem a envergadura política de Sarney, mas ambos são exemplos de uma patologia que a sociedade não conseguiu eliminar: o patrimonialismo.
Não, leitor, isso não existe só em Brasília, em Limeira mesmo tem candidatos a deputados federais condenados pela Justiça por terem empregado parentes.
Ouço reclamações sobre a possibilidade (real) de Tiririca eleger-se deputado federal.
O palhaço deve ser eleito porque representa o que é e o que pensa parte significativa do País sobre política.
Pode-se rachar essa culpa entre os políticos que ajudaram a formar essa imagem e seus respectivos eleitores. Mas é a pura realidade política do País, incluindo aí as Erenices, os Sarneys e os que escolhem de qualquer jeito seus governantes quando têm a possibilidade de ajudar a alterar esse panorama.
2 comentários:
Rafael, cadê a coluna de hoje? Bota aí, meu! Ficou muito boa. Fez jus ao seu sobrenome: foi escrita com a serenidade de um analista de olhar agudo que não abre mão do equilíbrio. Abraço!
Cris, já atualizei o blog com o texto. Obrigado pela observação. Abraço.
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