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segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A construção do voto

Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 6 de setembro de 2010:

Do outro lado da linha telefônica, uma senhora pigarreia, antes de fazer uma pergunta: “Vocês publicaram uma matéria sobre os vereadores [eram 10 de 14] que faltam às sessões. Quando vão mostrar os que não faltam?”.

Respondo-lhe que os nomes estão no mesmo texto. Ela insiste em saber; peço uns minutos para localizar o texto e dizer-lhe o que deseja.

Assim que nomeio os assíduos de janeiro de 2009 a julho deste ano, ela justifica-se, mesmo sem eu perguntar. “Gosto de acompanhar, para quando chegar a época de pedir voto a gente saber sobre quem está pedindo, né?”.

A explicação aguçou minha curiosidade, visto que os 4 que não faltam às sessões da Câmara não são candidatos nas urnas do próximo mês. “Mas depois dessa tem outra”, disse, referindo-se às eleições municipais de 2012.

A observação que essa eleitora faz, infelizmente, é um oásis diante do imenso desinteresse de milhões de brasileiros com a política e os movimentos eleitorais.

Ainda na última semana, audiência pública eleitoral conduzida pela Justiça de Limeira levou poucas pessoas ao Fórum, inclusive pessoas ligadas a partidos políticos.

No plenário da Câmara local, a baixa frequência de espectadores é rotina.

Pesquisa recente da Limite Consultoria, a pedido da Gazeta, apontou que 86,6% dos eleitores não se lembram em quem votaram para deputado há quatro anos.

Acompanhar o desempenho de um político eleito é tarefa que, além de difícil, é feita por poucos.

A grande imprensa tem dívida histórica com seus eleitores na cobertura do Congresso Nacional e das Assembleias Legislativas em relação a projetos e discussões que tramitam nas Casas, que são preteridos diante da possibilidade de explorar os escândalos políticos - também importantes.

Quando estive em Brasília, me surpreendi com a quantidade de projetos de evidente interesse público noticiados nos jornais da Câmara e do Senado, e que estão fora de cobertura da grande mídia.

Geralmente, só sabemos do projeto quando este já foi aprovado e não há mais possibilidade de discutir.

Somos chamados a decidir quem nos administrará a cada dois anos.

A eleição daqui a um mês é mais completa desde 2002, quando mudaremos dois terços do Senado, além de presidente, governador e deputados estadual e federal.

Apesar das dificuldades impostas pelo dia a dia e com a falta de informações, o interesse da eleitora em saber quem está presente nas sessões da Câmara é um bom exemplo de que é possível avaliar quem está na vida pública e construir o voto a longo prazo.

Um mês é pouco tempo, mas melhor decidir em 30 dias que de última hora.

Elaborar um bom voto é fortalecer a cidadania.

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