Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 14 de junho de 2010:
A senadora Marina Silva (PV) pode nem ir muito longe nas eleições presidenciais de outubro, mas já terá dado uma contribuição muito importante ao País se sua principal tese, divulgada na última semana, no lançamento de sua candidatura ao Planalto, for seriamente debatida durante o período de campanha.
A pré-candidata afirmou que o País precisa deixar de ter um Estado provedor - aquele que oferece tudo - para ser um Estado mobilizador, aquele que é feito com a participação das pessoas.
Dessa afirmativa, pode-se visualizar uma crítica sutil à condução do Bolsa Família, programa de transferência de renda de sucesso no governo Lula, mas por muitos tachado de assistencialista - em vez de ensinar a pescar, dá o peixe.
A ideia de um Estado mobilizador faz todo o sentido, especialmente num País em que, nas últimas décadas, o interesse pela política decaiu.
A quantidade de pessoas filiadas a um partido diminuiu gradativamente. Decisões que antes eram tomadas com militâncias passaram a ser discutidas em mesas de restaurante, em círculos fechados.
Reflexos disso estão em toda parte, e integram nosso dia a dia: observem se há muitos candidatos ao posto de síndico, à liderança de uma associação de bairro ou numa simples eleição para representante de classe na escola.
A aprovação da Ficha Limpa, ocorrida neste mês, é um exemplo de quanto é benéfica a participação incisiva da sociedade no processo de transformação do País.
Tudo bem que os políticos desidrataram bastante o projeto original, mas a pressão dos movimentos organizados e opinião pública foi fundamental para que algo, ao menos, ocorresse.
Foi a partir da mobilização das pessoas que o projeto vingou. E essa participação deveria também ser incentivada pelo Estado.
Na última semana, Limeira sediou uma audiência sobre o orçamento estadual de 2011, excelente oportunidade para apresentação de sugestões de necessidades ao Estado. Mas muitas entidades representativas de importantes segmentos da sociedade sequer mandaram representantes à Câmara.
Mais: diante das características dos pedidos, o presidente da audiência, deputado Mauro Bragato cobrou união entre Limeira, Cordeirópolis e Iracemápolis nas solicitações, já que muitas delas são de interesse conjunto.
Três cidades que deveriam estar unidas, mas que hoje pedem, de forma desordenada, contribuição do Estado, por pura falta de mobilidade, ou de interesse político mesmo de seus administradores, ou seja, de poucas pessoas, em detrimento da necessidade de muitos.
Estamos em época de Copa do Mundo, raro período em que o País se mobiliza e torce unido. Amanhã, todos esquecem diferenças de ideologias por um mesmo motivo.
Se esses mesmos torcedores, ao final do torneio, mantivessem a iniciativa de, em vez de esperar dos outros, participar ativamente do processo de construção de seu bairro, de seu trabalho, de sua comunidade ou cidade, mudanças significativas poderiam, de fato, ser implementadas em nosso País.
Debater se devemos ter um Estado mais mobilizador requer, primeiro, que a sociedade saia da inércia e deseje participar de sua construção.
Em resumo, mover-se.
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