Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 10 de maio de 2010:
Quando o juiz apitou o final da partida entre Flamengo e Corinthians na semana passada, a pergunta era inevitável: como um time administrativamente organizado, que planejou tanto, com investimentos em recursos humanos, preparação e paciência, ruiu diante de um adversário instável, com crises políticas, funcionários suspeitos de envolvimento com traficantes, dirigido por um comandante interino que acabara de substituir o antigo, demitido por ser considerado fraco diante das estripulias de seus subordinados?
Tudo bem, o futebol é uma caixinha de surpresas, não tem lógica, dirão uns leitores, e com algum naco de razão.
Mas, é certo também, que a derrocada alvinegra é uma boa mostra de como devemos aprender a lidar com situações que, cedo ou tarde, aparecerão em nossa vida pessoal ou profissional: a cobrança, a falta ou excesso de confiança, o fracasso e, acima de tudo, o medo de se deparar com ele.
O jornalista Anthero Greco, do Estadão, matou a charada: o Corinthians colocou o título da Taça Libertadores acima de seu próprio centenário.
Em diversos momentos da vida, miramos uma meta de forma tão obsessiva que, além de ignorarmos, consciente ou inconscientemente o que está ao nosso redor, nos esquecemos de preparar o espírito para encarar o obstáculo mais simples que aparece à nossa frente.
Daí a buscar justificativas nas fortalezas seguras mais próximas e achar culpados é um passo.
Depois, fica a sensação do vazio, como se nada mais tivesse sentido, como parece ser o ano para o torcedor corintiano.
A epopéia alvinegra foi exemplar em termos de falta de sintonia: havia a cobrança, excessivamente autoimposta pela própria direção do clube; a falta de confiança, estampada no rosto de muitos jogadores que nunca tiveram reciprocidade da torcida; o excesso de confiança, expressado nas promessas dos jogadores à torcida; o medo do fracasso, delatado pelo reforço policial extra ao Pacaembu e o receio da revolta das arquibancadas mediante uma possível eliminação, e, por fim, o fracasso propriamente dito, resumido de uma forma objetiva: Ronaldo falhou quando seus companheiros precisaram dele o ano todo; os companheiros falharam quando Ronaldo precisava deles numa única partida.
Aprender a lidar com todas essas situações é algo para toda uma vida, não só para um jogo, motivo pelo qual podemos, inclusive palmeirenses como eu, tirar lições da derrota corintiana.
E só vivenciando cada uma dessas sensações que a experiência é filtrada para o campo do conhecimento.
O esporte, especialmente o futebol, nos oferece muitos aprendizados e reflete um pouco do que é vida.
A diferença é que esta última não permite prorrogação nem dá o luxo de a gente decidir nosso destino na loteria dos pênaltis.
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