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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Inversão de prioridade é inaceitável

Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 14 de dezembro de 2009:

As chuvas e todos os transtornos causados a partir dela em São Paulo – e por que não em Limeira, já que houve uma morte confirmada por leptospirose? – trouxeram à tona um problema do qual o País ainda não conseguiu livrar, mesmo estando hoje sob elogios da comunidade internacional: o saneamento básico, especialmente nas áreas de risco.

Nenhum administrador público pode ser execrado por não ter considerado ou previsto os temporais como os que caíram na região metropolitana na última semana, que deixaram oito mortes.

O problema é quando se olha no planejamento do investimento dos recursos públicos. Para 2010, por exemplo, a gestão de Gilberto Kassab prevê gastar R$ 126 milhões em publicidade, contra apenas R$ 25 milhões em obras e serviços em áreas de risco.

Essa inversão de prioridades, que não é só característica de Kassab, é tão inaceitável quanto às vidas que se perderam.

A realidade, sabemos, é pior do se imagina: com o déficit histórico de moradias, avança a ocupação clandestina, especialmente em regiões onde não há infraestrutura alguma, como saneamento básico.

Como o Poder Público, de forma geral, é incapaz de evitar a manutenção dessa precariedade, as chuvas cumprem o papel doloroso de relembrar a condição terceiro-mundista do País.

Limeira não tem ocupações de alto risco como São Paulo, mas ainda tem bairros com problemas de infraestrutura.

Para piorar, a cultura de preservação ao meio ambiente ainda é um desafio. Repórteres da Gazeta que estiveram no Jardim Odécio Degan no dia da confirmação da morte de um adolescente por leptospirose constataram a excessiva presença de montes de entulhos nas ruas e áreas verdes do bairro, muitos deles alimentados pelos próprios moradores.

E, na sexta-feira, a averiguação de fezes de rato em praticamente todas as casas visitadas no bairro reforça a sensação de intervenção urgente, em nome da saúde pública.

Os efeitos nocivos da imprudência da população se potencializam nesta época. O verão nem começou e as chuvas já batem recordes no Estado, o que exigirão um trabalho reforçado do Poder Público para inibir a proliferação de doenças típicas da época, como a dengue, e das provenientes das águas, como a leptospirose.

Cabe à população colaborar para minimizar os efeitos de tanta água, mas, principalmente, cabe ao Poder Público a tarefa de melhorar a infraestrutura das regiões de risco, sejam elas regularizadas ou não.

Publicidade pode – e deveria – ficar sempre para depois.

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