Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 22 de fevereiro de 2010:
Passada a euforia inicial de ser escolhido sede da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016, o Brasil volta a dar mostras de seus gargalos, na medida em que vamos acompanhando o planejamento e o desenvolvimento das obras que servirão aos dois mais importantes eventos mundiais esportivos.
Primeiro, o trem de alta velocidade (TAV), que vai ligar Campinas e Rio de Janeiro, passando por São Paulo. Quando o país foi eleito sede da Copa, em outubro de 2007, o governo federal propagou que o trem-bala estaria inaugurado para atender a demanda que a Copa trará.
Conforme o andamento do projeto, os prazos foram flexibilizados e, no início deste mês, já está confirmado que não teremos o meio de transporte para 2014.
Ainda mais: a expectativa para 2016 deve ser vista com cautela, já que os especialistas acreditam que a obra deve durar entre cinco e seis anos após os trâmites burocráticos serem resolvidos.
Não me espantarei se daqui alguns meses o governo descartar a entrega do trem-bala para os Jogos Olímpicos.
Segundo, o orçamento para a Copa. Na última semana, a Folha de S.Paulo mostrou que a previsão orçamentária do evento brasileiro já está, antes do início de execução das obras, o dobro da Copa que será realizada este ano na África do Sul.
Lembro, ainda, que o Pan-2007, sediado no Rio, custou oito vezes mais do que o valor inicial projetado pelos organizadores em 2002.
Essas falhas de planejamento minam a credibilidade, se é que ainda esta existe, das autoridades brasileiras que comandam a organização dos eventos. Quando o País foi escolhido para ser sede dos Jogos Olímpicos, os pessimistas de plantão alertaram para o problema.
Neste mesmo espaço, admiti que recebi o anúncio com otimismo, que ainda não se desvaneceu, apesar de ter apontado também que não deixaríamos de ter a má gestão de dinheiro público.
No período da crise financeira, o Brasil mostrou à comunidade internacional, que pode se tornar importante personagem na diplomacia internacional ao longo desta década. Mas a burocracia, a corrupção e os favorecimentos são pragas que poderão ainda mais expor o país à vergonha diante desses descalabros de planejamento.
Em outubro, teremos a oportunidade de eleger os representantes que poderão fiscalizar a evolução das obras do trem-bala e das arenas para a Copa.
Se vão fazê-lo a contento, é outra história, mas podemos ajudar, escolhendo pessoas dispostas a isso também.
Afinal, parodiando tradicional canto futebolístico, a conta da Copa do Mundo é nossa!