Texto do jornalista publicado na coluna na versão impressa da edição de 4 de abril de 2011:
Está em curso uma importante cruzada contra aquilo que conheci nos meus tempos de escola como “muita zoeira” e hoje atende pelo nome de bullying.
No Rio de Janeiro, um colégio foi condenado a indenizar, por danos morais, a família de uma ex-aluna.
A criança tinha 7 anos quando foi espetada por um lápis, arrastada, sofreu arranhões, socos, chutes, gritos no ouvido, palavrões. Adquiriu fobia de ir à escola, insônia, terror noturno e passou por tratamentos antidepressivos. Por não proteger a estudante, a escola terá de pagar R$ 35 mil.
Em Limeira, as escolas particulares notificarão o Ministério Público e o Conselho Tutelar quando identificarem a prática.
Na sexta-feira, a Gazeta mostrou que, para configurar prova, o bullying pode ser registrado em cartório.
Não podemos esquecer que a Prefeitura de Limeira já criou - e obteve aval da Câmara Municipal - elogiável projeto para implantar, nas escolas, ações de conscientização e prevenção ao bullying.
Essas medidas de combate à humilhação precisam ser destacadas e apoiadas para que a sociedade consiga desincentivar atitudes agressivas, de todas as partes.
No mês passado, um garoto australiano que está acima do peso, Casey Heynes, virou, aos 14 anos, símbolo mundial do bullying após um vídeo ganhar a internet e a TV. As imagens mostram o menino revidando, de maneira violenta, uma sucessão de agressões que vinha sofrendo - ele admitiu que já pensara em suicídio.
O curioso é que comentei e discuti a ação de Casey com várias pessoas e todas, por unanimidade, apoiaram o gesto do menino. Ninguém teve pena do garoto magrinho que, lançado violentamente ao chão, saiu manquitolando seriamente - ele poderia ter quebrado o pescoço.
A atitude de Casey, que em qualquer outro contexto seria classificada como mau exemplo, transformou-se num emblemático exemplo antibullying.
Ele está sendo aplaudido mundo afora por usar a violência contra a violência, o que não pode vir a ser, necessariamente, a ação mais recomendável.
Se 1 em cada 3 estudantes no Brasil já sofreu bullying na escola, conforme pesquisa divulgada recentemente pela mídia, trata-se de um sinal evidente da necessidade de debater o assunto, especialmente nos lares.
Aplaudir Casey pode ser compreensível levando-se em conta as humilhações que ele suportou, mas significa incitar a reação violenta.
Se é ou não um bom exemplo, o menino australiano já é maior representação de que algo é preciso ser feito contra o bullying antes de um fato pior acontecer, como suicídio e homicídio entre crianças e adolescentes.